Sinal aberto
Sim, foi tudo muito rápido. Eu estava esgotado no físico, mental espiritual, estava um trapo. Tinha acabado de sair da minha quarta entrevista àquela manhã – Jaraguá do Sul/Guaramirim/Jaraguá do Sul – e estava meio certo de que o resultado seria o mesmo das três anteriores. Minhas pernas tomavam decisões autônomas e minha bunda não podia ver um banco que queria me posar de Buda. Foi um dia ruim, muito ruim. Tão ruim que me fez crer que Michael Stipe não sabe porríssima nenhuma sobre dias ruins. Cheguei ao sinaleiro perto do Angeletti novo, estava fechado e tinha algumas pessoas por ali. Por já estar nessa situação há tempos, percebi que alguém com classificador escuro, calça arrumadinha, barba cerrada, gola polo e suores pela testa, tinha acordado cedo e estava na correria dos currículos. Sem a menor cerimônia, porque um arrombado reconhece outro, falei.
Acabei de voltar de uma entrevista.
Que bom.
É. Fiz três antes, mas tá foda.
Muito foda.
E como tá a correria?
Uma merda.
Também tô cansado.
Eu tô cansado, desesperado, fudido e com fome.
O sinal abriu e, num pulo, ele se jogou na frente do caminhão que vinha carregado de andaimes. Com o susto fiquei com a oferta atravessada na língua: posso te pagar um lanche ali no Terminal se você quiser. E pensar que poderia ter salvado a vida dele. Nunca vou me recuperar do choque de ver aquele pacote ali, estatelado à minha frente. A vida não perdoa ninguém. Posso ir para casa delegado?