Cincácia

Muitas vezes digo anos, mas já não sei o tempo. Hoje vejo suas fotos, sua vida... Não mudou nada. A mesma beleza incandescente da juventude permeia o olhar marcado. Imagino coisas que não posso dizer, pois nunca foram ditas: irrealidade gradativa, que contamina a (in)consciência. O fato é que tudo nesse jogo é transcendente, ao mesmo tempo incerto. O presente é sempre revelador; o passado é sempre saudoso; o futuro não sabemos se existe. Percebendo bem teus trejeitos, traços, pude ensaiar teorias, calcular probabilidades, sem nenhum embasamento científico, sem nenhum compromisso com o que existe, afinal, estamos vivos, isto nos permite explorar o inédito. Quando tento lembrar, as reações prevalecem, as emoções elucidam a sintetização orgânica que há em mim, transformando-me em tudo que sai de ti. Então a dor crônica, que pensei ter superado, retorna. Atitudes intuitivas sobressaem, sentimento cego, amor incerto, mal resolvido... Minhas memórias em saltitantes flashes fotográficos mostram os lábios carnudos, o cabelo se derramando denso na cama, o olhar viscoso... por outro lado acusam a enxaqueca. Quando falamos pela última vez estava pelo Paraná. Em meio a isso nem sei por onde andas, nem se tem alguém.