173 - Cento e Setenta e Três.

Acharam melhor deixar o caixão fechado. Ficou muito mais difícil ter a certeza de que o velho acabara de vez. Imagino tudo o que não posso ver e, assim, vi que lhe vestiram o fato azul das festas, a camisa de algodão e uma gravata que estava manchada sem remédio. Afinal ele estava inchado, a roupa teve de ser cortada atrás, e pouca importância teria o modo como dali a pedaço seria lambido pelo fogo que ainda não era o do Inferno. As cinzas ficariam lá e disso soube, na hora, a viúva que para o efeito não foi tida nem achada. – Quero as cinzas, quero as cinzas, lamentava-se. E o mais velho dos filhos, homem rude e pragmático, para lhe secar o pranto disse-lhe que, custasse o que custasse, lhe levaria cinzas a casa. E a Velha calou os gritos e tremeu ainda uns ais de choro. Saíram todos que ali nada mais haveria a fazer. - Tenho na loja um pote de porcelana que te ofereço e as cinzas recolhes do borralho quando ela não veja. São iguais todas as cinzas de uma fogueira como deve ser, como a que usam aqui fazer.

Edgardo Xavier

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 01/03/2020
Reeditado em 03/03/2020
Código do texto: T6878160
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