Prata da casa...?

Didina, do alto de seus sessenta anos de muita experiência e expediência, pensou duas vezes. E mesmo no maior aperto, foi esse o seu melhor acerto: entre correr para casa e se aliviar ali na lagoa, a célebre Lagoa da Prata, decidiu-se pela segunda alternativa. Era questão de vida ou sorte...

Temia que viesse coisa grossa ali por trás, em razão haver se empanzinado de mingau e bolo pela matina e de já ter liberado, ainda que parcimoniosamente, por pura modéstia e recato, todo o gás, em silente sequência de flato após flato... agora, no entanto, era pura matéria, sem lero ou léria...sólida ou líquida, quanta miséria...

Dudute, a mana mais velha e prudente, em tudo foi assente. E ainda fez até a gentileza de acompanhar Didina, simulando um pre-aquecimento para um nado sincronizado...

E atingida a profundidade de uma jarda - foi tudo o que Didina aguentou - a graça ela alcançou, e o me largue, se obrou...com um único senão, o de não se afundar, e que portanto, ainda que bem concreto, boiou...

Dudute, em solidariedade, e mais ainda, no desespero, bem que tentou formar com braçadas uma corrente para afastar aquele saliente inconveniente...mas foi debalde, feito filhote selvagem que invariavelmente segue a mãe, a cria, outra cousa o ente não fazia...qual patinho feio que em virar cisne, flutuando, flutuando, ainda cria...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/01/2020
Reeditado em 27/01/2020
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