Último trem para Aldwych
A garota, de sobretudo castanho e boina xadrez na cabeça, caminhava preocupada pela plataforma do metrô em Hammersmith, quase deserta àquela hora da noite. Temendo que fosse alguém com tendências suicidas, Walter Jennings aproximou-se dela quando passou pela terceira vez perto de onde ele estava.
- Olá! O seu trem está atrasado?
A jovem o encarou com seus grandes olhos azuis, parecendo surpresa.
- Estou aqui faz meia hora e ainda não vi passar o trem para Aldwych.
Foi a vez dele ficar surpreso.
- Desculpe... Aldwych? Essa estação fechou faz muito tempo. No início da década de 1990, se não me engano.
- Deve haver algum engano, senhor - replicou a jovem, altivamente. - Eu moro na Russell, próximo à estação Aldwych. Sempre pego o metrô aqui e desço no fim da linha.
Decididamente, a garota não regulava bem, pensou Jennings.
- Era algo que podia ser feito há uns 25 anos - comentou. - Hoje, não mais.
Uma composição vinha chegando pelo túnel, sentido Cockfosters. Quando os faróis iluminaram a plataforma, Jennings viu que era um velho modelo 1972 e, ao passar em frente a ele, percebeu que estava quase completamente vazio.
- É o meu trem - declarou a jovem com um sorriso orgulhoso.
- Tem certeza de que ele vai mesmo para Aldwych? - Indagou Jennings pensativo.
- É o fim da linha do ramal de Holborn - informou a moça, posicionando-se para embarcar.
Jennings colocou-se ao lado dela.
- Importa-se se eu a acompanhar? Está tarde, e posso lhe deixar na porta de casa.
- Vai mesmo querer fazer essa caminhada? - Indagou a garota, parecendo divertir-se com a situação.
- Não é longe, não é? - Ponderou.
- Não, não é - respondeu ela, calmamente.
As portas do vagão abriram-se e ambos entraram. Para quem estava na plataforma, a última imagem que restou dos dois, os mostrava sentados lado a lado. Com o reflexo das luzes, os cabelos louros dela subitamente pareciam ter se tornado brancos.
- [22-01-2020]