145 - Cento e Quarenta e Cinco
A casa perdera o telhado há muito tempo e as portas e janelas foram roubadas. Sobrou o que não valia e as paredes de barro que ninguém, quis levar. Ainda era uma casa, um abrigo contra o vento, um lugar onde a vegetação se demorou pela entrada. O primeiro dia foi para a ver, para a sentir, para saber se poderia ficar ali a fazer o que o pai fazia, a viver como ele vivia. Dormiram ele e a casa juntos e na primeira noite voltou a haver lume na cozinha abandonada. Depois, limpou de mato a estrada, recolocou as chapas de zinco, tirou água do poço e lavou-se, bebeu, regou as árvores que tinham sede. Tinha a casa, comida e solidão. Um dia chegou a vaca e noutro o leão, um dia era bom e outro não. Quando ela veio pelas couves e pela fruta, ficou para almoçar e ofereceu-se para fazer o jantar. A consciência, dizia-se em África, é um triângulo de ferro que roda no coração.