127 - Cento e Vinte e Sete
Não seria um mentiroso vulgar. Presumo mesmo que Bernardo fosse mais um criador de estranhezas, um tipo que gostava de ver os ingénuos abismados fosse qual fosse a narrativa. Quando um dia tomava banho nu numa praia deserta, ela veio, contou. Achou insólito que uma mulher também estivesse nua no banho nocturno. O luar era tão intenso que se viram em pormenor. Que boca, que dentes, que seios, disse aos ouvintes presos do que diria a seguir. Era tímida e sorria de longe mas tudo o que olhava e ria eram recados fortes para um desamparado Bernardo, ali metido no mar, visto em detalhe, excitado. Claro que ela gostou de saber. No abraço é que senti, abaixo da cintura, o começo das escamas. Venham-me agora dizer que elas não existem, concluiu.