77 - Setenta e Sete
A toda a gente se paga com dinheiro mas aos artistas plásticos a sua promoção deverá bastar. Foi assim quase sempre. Naquele ano, tal como de costume, os promotores pagavam o almoço. E lá ficámos com o sol a pino a ver, analisar, distinguir e premiar as construções na areia, tentando fazer justiça, suportando sem um esgar os muitos Ratos Mikey e demais porcarias fruto da publicidade da época que os paizinhos iam sugerindo com total despudor. Quando acabou fomos matar a fome na companhia de uma empregada da Junta de Turismo, escultora, parte integrante do Júri . Ela, em nome da Organização, pagaria as despesas. E fomos ao melhor restaurante comer camarões tigre grelhados à moçambicana. Estavam tão bons que repetimos as doses, regando com vinho branco reserva muito gelado. A sobremesa também estava boa e a seguir café. No final a continha era calada mas a representante pagou com genuína alegria. Foi assim que nunca mais nos quiseram no Júri do Estoril . Agora ganha folgado qualquer rato mesmo sem ser o Mikey.
Edgardo Xavier.