A ingratidão

D.ª Carmen, prof.ª de história,

naquele momento estava à frente de uma turma de alunos adolescentes

com seus cinqüenta e cinco anos vividos, mas ainda estava no auge,

Tinha o semblante um pouco melancólico,

mantinha a aparência firme e tranqüila,

sempre inspirou aos alunos, muita firmeza nas sua afirmações

procurava mostrar a vida meio lado fantasia,

entendia que assim fazendo incentivava a utopia

mas via o lado bom disso tudo, pois a vida em si, pode ser cruel,

olhando o viver puramente realista, machuca, desanima,

então porque não enxergar o lado belo da vida, a fantasia,

ela sem dúvida também pode ser explorada, quebra a dureza do existir,

prof.ª Carmen naquele momento da aula quis inovar,

não que lhe faltasse o preparo ou inspiração naquele dia,

mas esses enfoques ela sempre o fazia, chegava a ser o seu forte,

começa: -- meus queridos, escrevam uma palavra, um sentimento

pode ser o que mais mexe com cada um de vocês, ou a qualquer pessoa,

queria ouvir o comentário de cada um, na próxima aula

aquele que quiser comentar, é claro!...

Depois que todos os jovens saíram, ela permaneceu em sua mesa,

preparando sua saída, juntando os materiais, pensava nos seus anos vividos,

interessante que em poucos minutos podemos fazer um retrospecto de nossa vida,

e ela fez, seus pensamentos voltaram no tempo,

no seu esplendor da juventude, teve um filho “filho sem pai”

a luta foi árdua, mas na medida do possível fez o papel de mãe,

amou aquela criança gerada, imensamente,

deu-lhe educação, na opinião de muitos, esmerada,

permitindo que na sua fase adulta, conclusão até mesmo de curso superior,

este filho já responsável por si mesmo, deixa a mãe e parte, “criou asas e voa”,

o tempo foi passando e a comunicação mãe e filho tornava-se cada vez mais difícil,

cartas esparsas, oi mãe, estou bem, você, como vai?...

não contentando somente com os alôs distantes, Carmen procura o filho várias vezes,

constata que ele vive bem, mas o modo que era tratada sempre frio e distante,

compreende que seu filho envergonha-se dela, despreza o contato ainda que esporádico,

análise crua e nua: a ingratidão do filho, porque tudo que ele recebeu foi muito amor.

Já levantando de sua mesa par sair da sala e não conseguindo evitar algumas lágrimas

faz um pedido: --- meu Jesus, não deixe que se forme um círculo vicioso,

que meu filho receba em troca ingratidões, porque seu sofrimento seria atroz,

quanto a mim continuo achando que na vida os espinhos podem machucar,

a dor física pode até ser muito ruim,

mas ao olharmos um jardim florido, o prazer no nosso íntimo como é magnífico!...

No seu monólogo indaga: será que algum dos alunos escolherá a palavra ingratidão?...

(qualquer semelhança simples coincidência, mas as histórias continuam sempre se repetindo)