Jandira

Há muito tempo, Jandira seguia o mesmo percurso para o trabalho, ela gostava de caminhar cedo, quando o sol estava despontando no horizonte. Antes de sair, costumava se olhar no espelho e não se sentia bem com o que via. Aos trinta anos, solteira, via as primeiras linhas do rosto se formarem silenciosamente, sob a ação implacável do tempo. Além disso, estava cada vez mais difícil controlar o excesso de peso que não era muito, mas poderia torná-la obesa, conforme o tempo passava. Tinha a pele branca, olhos negros, misteriosos, cabelos longos e lisos também negros, altura mediana, não era feia e considerava o rosto atrativo e encantador. Falava pouco, não tinha amigos, mas aprendera a se defender com as experiências vivenciadas no sertão onde nascera. Vez em quando, voltava à terra natal para ajudar a mãe e para isso, economizava todo mês deixando de comprar produtos que todas as mulheres amam comprar. E lá se vai a Jandira, seguindo cedinho para o trabalho navegando nos próprios pensamentos. De repente, um homem pergunta as horas e Jandira absorta no seu mundo interior, olha para o relógio e responde automaticamente. Tudo aconteceu muito rápido, o homem tapou sua boca e ali mesmo, na rua deserta, a estuprou. Mas Jandira, acostumada à dureza da vida, não se intimidou, esperou o sujeito se afastar, ligou pra polícia, indicou o local na maior frieza, descrevendo a roupa que o homem estava usando bem como as características físicas dele. Não tardou para que o prendessem e chamassem Jandira pra fazer o reconhecimento do sujeito. Olhando nos olhos do homem, ela afirmou:

- É esse cabra mesmo e eu quero dizer pra esse vagabundo o seguinte: eu nasci no sertão e aprendi a lidar com bestas feras feito tu. Não sou mulher da cidade que fica com vergonha, calada, traumatizada. Que trauma o quê? Agora te vira porque eu vou ao hospital limpar a lama que tu colocou dentro de mim

Admirado com a atitude de Jandira, o delegado o prendeu, mas puxou a ficha do homem que já havia cometido vários estupros com outras mulheres. Jandira saiu nas páginas de jornais, mostrou o rosto e não se negou a dar nenhuma entrevista.

Bromélia da Amazônia
Enviado por Bromélia da Amazônia em 22/10/2019
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