O menino Edvaldo Xavier
Nos anos setenta, Nerópolis era uma pequena e pacata cidade do interior goiano. A população era pequena e se conhecia quase todo mundo. Havia ali personagens que se destacavam por suas habilidades ímpares naquilo que faziam: o melhor domador de cavalos, o bom plantador de alho, o hábil jogador de futebol, o disputado apanhador de café, o bom doutor no pequeno hospital, o atento vigilante da praça, entre outros. Mas havia aquele que se destacava mais que os outros e era conhecido por todos por sua habilidade com a mão canhota no jogo da sinuca: Edvaldo Xavier. Com o taco nas mãos, ele parecia um dançarino ao redor da mesa e realizava jogadas extraordinárias. Sempre que estava presente, o público era garantido.
Liolino(Lió) era um comerciante de bebidas muito conhecido e o seu bar era o palco das grandes partidas de sinuca. O movimento era sempre intenso, desde as primeiras horas do dia até o anoitecer. Num certo domingo, aconteceu algo inusitado. O jogo valia dinheiro e o vai e vem de pernas, tacos e braços não parava. As pessoas se amontoavam querendo ver as jogadas. Umas torciam, outras esperavam o momento para entrar na partida. Os jogadores se revezavam nas partidas, olhares tensos, firmes, concentrados. O menino Edivaldo brilhava com suas tacadas insólitas. Como num liso tapete, a cada jogada sua, a bola branca rolava no pano verde e raramente errava o alvo. Mais uma partida vencida. Quinze partidas seguidas, sem perder. O menino estava inspirado. Ao final de cada partida, as bolas eram repostas na mesa e o vencedor realizava a tacada inicial. Nesse instante, Donizete, um dos jogadores, resolve desistir do jogo. Estava sem dinheiro. Conhecido por seu temperamento explosivo, Donizete andava quase sempre só, tinha poucos amigos. Quando vê uma meia dúzia de pessoas se levantar a fim de entrar no seu lugar, recolhe o taco e decide jogar mais uma partida. Então, algo inesperado acontece. Ao realizar a jogada inicial, Edivaldo desfere uma forte tacada e, por incrível que pareça, caem todas as suas bolas, em uma única tacada. Donizete, sem dinheiro, diz que não vai pagar e o jogo termina em briga. Por fim, os ânimos se acalmam e o menino Edivaldo fecha o dia com chave de ouro, perdoando a dívida do colega nervoso.