HOMENAGEM PÓSTUMA
(Uma estória de dois trapalhões)

Em 16/06/1958, morreram em trágico acidente aéreo em São José dos Pinhais /PR o Governador de SC, Dr. Jorge Lacerda, além de vários políticos e assessores do governo do estado.
Decorridos alguns meses da tragédia o então prefeito de São Bento do Sul/SC, chamou seu assessor/motorista e lhe disse:
- Jovelino, vamos amanhã à Florianópolis fazer uma visita ao túmulo do Dr. Jorge, providencie um saco de algodão e encha de terra, pegue-a lá dos fundos da garagem.
- Mas pra quê sr Prefeito ?
- Não lhe interessa, apenas faça o que eu mandar !!! 
(Obedece quem tem juízo, manda quem pode – pensou o funcionário)
Sem alternativas, tomou as providências que a Excelência determinara.
Seguiram n'outro dia à Florianópolis , num  Jeep Willis  (único veículo leve do patrimônio da  prefeitura)
Após longa jornada por estradas empoeiradas, lá chegaram -  suados, em  roupas amarelecidas e exaustos.
Hospedaram-se num hotelzinho simples e barato (sem estrelas) perto do antigo cais do porto.
Tomaram uma ducha fria e saíram em direção ao mercado municipal para adquirirem junto a loja do Saul Saad ternos de linho branco, baratinhos...baratinhos...
- Me diga Sr. Turco quanto custa aquele dali? – o prefeito apontava com o dedo rígido, como se estivesse atirando com uma arma.
- Brá vozeis eu fazo baratinho, baratinho, só drinta e treis gruzeiro.
- E se levar 2 ternos, tem desconto? ...aventurou-se o administrador municipal.
- Mas gompadre, o brezo é guase de gusto, Saul não bode baixa mais...
- Está bem, vamos provar... onde é o provador?
- Saul não dem brovador, brovem atraiz do balcão.
Dito e feito, após alguns minutos foram acertar as contas.
- Quanto devemos Sr. Turco?
- Zezenta e zeis gruzeiros, Saul não gobrou a embalagem...
O prefeito tirou do bolso do paletó o talão de cheques de sua conta pessoal e ordenou ao subalterno que preenchesse o valor.
Jovelino começou a preencher mas “estaqueou” ...Sr. prefeito 66 é com S ou com Z?
- E eu lá sei “seo iguinorante”? – vamos logo, preencha dois cheques de trinta e três e fica resolvido.
Resolvida a questão “intrigatória”,  lá se foram os cavalheiros ao quarto do hotel.
Se “alinharam “ (1), passaram uma água de cheiro no cangote e se dirigiram ao ponto de táxi nas proximidades.
- Pro cemitério municipal ordenou ao motorista!
Chegamos. Jovelino, rápido, pegue o saco e as velas!
- Olha aí é este o túmulo do querido Governador, apontou o prefeito.
De joelhos ante a lápide, rezaram por longos minutos.
Levantaram-se, acenderam meia dúzia de velas colocando-as frente a lápide.
Em tom solene o Prefeito apanhou o saco de terra, derramando-a sobre o túmulo e proferiu as seguintes palavras:" Querido Governador Lacerda, lhe trago parte da terra que  vossa Excelência tanto amou, e, desatou a chorar.
Jovelino, comovido, soluçava e chorava copiosamente.
Uma velhinha, fazia a limpeza n'um túmulo próximo, observando-os.
Intrigada com o chororô daqueles homenzarrões metidos em ternos de linho branco, indagou:
- Mas meus senhores, porque tanto choro se ela morreu há mais de 150 anos ???
E o Prefeito: - Jovelino, apague as velas, recolha a terra, choramos no buraco errado...