"PRAZER, MARIA DA PENHA" !

"PRAZER, MARIA DA PENHA" !

No restaurante lotado, nos Jardins -- zona nobre da Capital paulista - o sujeito aguardava o almoço fumando tranquilamente na área reservada para isso, novidade naquela época de tantas transformações. Se aproxima dela um "rinoceronte de saia", óculos de grau enorme no rosto redondo, ascendência árabe e muita disposição:

-- "Miserável poluidor, "verme" antiecológico, ser insensível das cavernas... então , é você" ?!

-- "Mas o que foi que eu fiz, minha senhora" ?!

-- "Minha senhora uma vírgula, meu marido se chama Oscar ! Essa fumaça horrenda está empestando meu almoço... apague já essa porcaria" !

-- "Mas, onde é que nós estamos ?! Não apago coisa nenhuma" !

-- "Então, ponha-se daqui pra fora... JÁ PRA FORA"!, berrou.

A gritaria chegara aos ouvidos de todos, até do gerente, que se aproximou esfregando as mãos nervosamente.

-- "Quero esse "inseto" longe do MEU restaurante"!, ainda aos gritos, vermelha de ódio, as bochechas tremendo.

-- "Cavalheiro, queira se retirar.. é o melhor a fazer" !

-- "Mas, nem almocei ainda ! Quem é essa doida que pensa que é dona do Mundo" ?!, replicou, ressabiado.

-- "É a esposa do meu sócio, Oscar Salim Muchiba, são donos do restaurante... é melhor sair" !

-- "E o meu almoço ?! Quero meu dinheiro de volta" !

-- "IM-POS-SÍ-VEL... os pratos já estão sendo montados" !

Êle afastou a cadeira, subiu na mesa e sentou nela como um faquir, cantarolando "Daqui não saio, / daqui ninguém me tira" ! Com imperceptível sinal do indicador do "maitre" surgiram "do nada" 2 "coveiros", ambos de preto dos pés á cabeça -- inclusive cuecas e meias -- exceto a gravata "roxo-pavor" e um turbante branco na testa.

-- 'Já sabem o que fazer, podem levar" !

Foi agarrado pelo pés e braços e praticamente lançado à rua, por porta lateral que dava num jardim e no estacionamento, saída de boa parte dos clientes. Atrás do trio vinha um garçom com bandeja e o menu completo pedido por êle tempos antes. Decidiu "participar da brincadeira", "curtir a sacanagem" lhe feita absurdamente. Voltou o "tanque de guerra", para esmagá-lo em definitivo:

-- "O senhor não pode comer aí, mais parece um mendigo" !

-- "Já estou comendo, "trubufu"... não está satisfeita" ?!

Atingida na sua vaidade ela sumiu para não mais voltar. Nesse ínterim jovem casal de saída joga 5 cruzados novos (o Real ainda não fôra criado) aos pés do revoltado cliente, que "explode" de vez com tanta injustiça.

-- "Enfie "no rabo" essa merda, não sou mendigo, sou empresário e me formei em Harvard, vagabunda" !

A jovem, uns 30 anos, do tipo atlético, voltou do carro e se desculpou delicadamente:

-- "Desculpe-me, amigo, achei que fosse um desempregado necessitado" !

-- "Pois da próxima vez pergunte antes... e pode ficar com seu dinheiro, "sua vaca" !

-- "Ah, ainda não me apresentei... "PRAZER, Maria da Penha" !

Surpreendido com a fleuma e a paciência da moça, êle desarmou-se. Quando estendeu a mão para cumprimentá-la levou um tapa no rosto que o entortou pra esquerda e outro o endireitou novamente. Ainda sentado, teve os pulsos "manietados" pelas "garras" da jovem, que lhe deu um "balão" de Judô e o jogou feito um saco de costas no chão. O marido, preocupado, implorou à moça:

-- "Mary, pelo amor de Deus, não vá matar o senhor" !

"NATO" AZEVEDO (em 1º/out. 2019, 6hs)