BONDINHO "ALUCINADO"

ADENDO AO CONTO - nunca entendi como brasileiros gastam tanto para visitarem a Torre Eiffel ou a Estátua da Liberdade, embora nada conheçam do próprio país. O escritor nordestino Ariano Suassuna, em entrevista inesquecível ao Jô Soares, declarou achar patético brasileiros na Disney chorando de emoção ao ver um homem vestido de "rato" e se fotografando ao lado de "patos" e Plutos. Essa estória ridícula nasceu a partir de um bilhete verde do bondinho do Pão de Açúcar, com cadeira numerada -- nem sabia que havia assentos neles -- e hora marcada para embarque, ao módico preço (?!) de 42 reais, quase 15 dólares, tudo para ver... edifícios e praias ! Turistas vêm do Mundo inteiro para apreciarem prédios e casas. Isso é que eu chamo de "insanidade cultural! (NATOAZEVEDO)

BONDINHO "ALUCINADO"

"Nêgo da Matinha", mulato, pardo claro, "moreno" ou branquelo" -- como um desafeto negro o chamara -- acordou "com as cachorras" (*1), "soltando fogo pelas ventas"! (Eu ía escrever "com a macaca", mas como o personagem tem esposa e filhos haveria leitor mal intencionado a me tachar de racista.) Embora tivesse um bom emprego como "motorneiro" do Bondinho do Pão de Açúcar -- nem precisava, aquilo funcionava sozinho -- êle andava insatisfeito com a função. Ora, seus filhos não podia, viajar naquela "coisa", enquanto os "gringos" lá não sei da onde viviam lotando os bondinhos dia e noite. E agora, até favelas os turistas queriam visitar, vê se pode um absurdo desses !

"Nêgo da Matinha" não nascera em "comunidade" alguma, era filho do subúrbio, mas com as mesmas dificuldades e carências e isso fizera dele um "inimigo" da riqueza, a alheia, é claro ! Daí, ver todos os dias, o dia inteiro, aquela ostentação toda o estava deixando "doente", extremamente tenso, irritado. Pior, a esposa convidara a sogra para passar uns dias com êles e, claro, iria levar a "surucucu" para passear no Bondinho, "meu marido manda lá, mamãe, é homem de confiança do diretor" !

Não era uma coisa nem outra... o apelido os amigos maldosos lhe deram na infância, pois passava os dias num bosquezinho caçando passarinhos. Mas hoje, justo hoje, êle acordara "com a macaca" -- perdão, leitores, esqueci a autocensura ! -- muito "puto da Vida" e ía "sobrar" pro primeiro que lhe "enchesse as medidas", lhe "torrasse o saco", "passasse dos limites". A hora do almoço se fôra a tempos e êle se preparava para mais uma partida, exatamente a na qual deviam estar mãe e filha, digo, sua mulher e a maldita sogra. Um turista americano, com esposa e filho de uns 10 anos, começou a incomodá-lo, falando em "portunhol" com pitadas de Inglês:

-- "Well, hombre, o que esperar usted ? Porque no sales" ?!

"Nêgo da Matinha" decorara 5 ou 6 frases em Inglês, que deveriam "responder" a qualquer abordagem de turistas.

-- "Just a moment, please... Brasil is beautiful" !

Mas o turista não se deu por convencido e, batendo rispídamente no ombro do condutor, "engrossou":

-- "That's a sheet... ter que ir now " Go on, man" !

"Nêgo da Matinha" o fuzilou com olhar de ódio mal contido e lhe mostrando o relógio "Vagabundex" no pulso magérrimo, replicoi com um sorriso maligno:

-- "No is the hora, understand ? Seat down, please" !

-- "No, no, no sentar... ter que ir now, understand" ?!

Já estava para "esquentar as orelhas" do "yankee" quando foi "salvo pelo gongo"... a dupla familiar surgindo lá no fundo da calçada de acesso, correndo esbaforidas em direção ao bondinho. Entraram com sorriso amarelo, o "Nêgo" mirando-as com olhar reprovador. E lá vem o "gringo", voz alterada, as apontando:

-- "No, man, without TICKET... "los biletes", no tienem" ?!

De ticket "Nêgo da Matinha" entendia, ouvia o termo dia e noite no bondinho e até nos seus pesadelos. O "gringo" estava "se metendo" com sua família, a Gerência iria descontar do seu salário as 2 viagens, por isso não precisaram de ingresso, bilhete, ticket. "P da Vida", apontou uma cadeira ao turista inconveniente e ligou os equipamentos. O bondinho estremeceu e o sujeito finalmente sentou ao lado do filho e da esposa.

(Abro um parêntesis - entendendo-se que cada cadeira tenha seu dono, quando o Bondinho descer o sujeito volta nele, caso contrário vira bagunça: bondinhos descendo com meia lotação e outros superlotados. Fecho o parêntesis !)

Fizeram os 2 percursos, com HORA MARCADA para descer, o que o gringo desconhecia, pretendendo ficar mais algum tempo lá em cima. "Nêgo" solicitou a uma atendente "trilingue" (Inglês, Francês e "fofoquês", uma desgraça !) que alertasse o turista quanto à exigência de retornar no mesmo bondinho. Êle ignorou as advertências todas e, ao tentar descer em outros bondinhos, foi impedido. Quando "Nêgo da Matinha" estacionou novamente seu Bondinho 2 horas depois no Morro mais alto, o turista espumava de raiva. Forçou a entrada na volta mas os seguranças o impediram ! "Nêgo da Matinha" se sentia vingado, ria com os olhos e o bigodinho fino de jogador de "ronda" e 21... deu "tchauzinho" ao "gringo" enfurecido e recebeu de volta o gesto universal com o dedo indicador ereto na mão fechada. Devolveu o "cumprimento" com um OKAY com 3 dedos para baixo, o que no Brasil representa um "FUCK YOU", o famoso "vá tomar no c*"! Aquilo "endoidou" o "gringo" de vez... êle deu um "calço" com as mãos para o menino e o impulsionou para cima, em direção ao teto de vidro do Bondinho, que descia lentamente a rampa. Soube-se depois que atuavam em circos nos "cassinos" de Las Vegas, tinham anos de treino juntos. Correu ao lado do Bondinho, parou em pose de velocista dos 100 metros rasos e a esposa, atrás, "escalou" suas costas com 2 ou 3 saltos, findando ao lado do filho, sobre o mesmo teto. O "gringo" disparou contra coluna de ferro trançado que sustentava o telhado da gare e, qual símio, subiu por ela para espanto e terror dos passageiros, gritando apavorados. Estupefato, "Nêgo da Matinha" nada podia fazer, a viagem do bondinho era automática, êle só podia interrompê-la em casos muito graves. Aquele não era um deles, mecânicos da empresa "viajavam" daquela forma rotineiramente.

"Nêgo" viu seu emprego despencar junto com o Bondinho, "estaria na rua" assim que chegasse lá embaixo. Gerente e diretores já estavam à espera do veículo, avisados horas antes sobre a confusão que o "gringo" aprontara lá em cima. "Nêgo" acabou suspenso do serviço e o "gringo" foi preso com meia dúzia de acusações, inclusive a pai desnaturado, tendo o filho sido "internado" num Conselho de proteção à Criança, com a mãe americana impedida até de vê-lo. (*2)

Aí "a porca torce o rabo"... a Embaixada americana interveio, aquilo feria os Tratados internacionais assinados entre Brasil e USA. Exigiam libertar a família e liberar todos os 3 para voltarem a Washington, onde responderiam perante as leis americanas. Nosso presidente, no último ano do primeiro mandato (e caindo nas pesquisas de intenção de voto) queria "fazer bonito" e alavancar a própria reeleição, por isso declarou:

-- "Aqui não é a Venezuela, em que todo mundo manda... nossa soberania foi ultrajada, esses estrangeiros precisam de uma lição" !

Trump convocou seu general e ordenou a retirada da Embaixada no Brasil, além da invasão por mar com seu porta-aviões gigante, o "Hércules", um portento de 250 metros de comprimento e mais de 40 de altura.

-- "But, Mister President... não podemos chegar a tanto" !

-- "Eu dou as ordens aqui, cabe a você cumprí-las ou "perde a cabeça", juntamente com a família inteira" !

O superhipermeganavio com combustível nuclear e geração de energia atômica com partículas ionizadas por diamante industrial "voou" sobre 2 Oceanos e surgiu na Baía da Guanabara 36 horas depois. Por ordem expressa de Trump "acordou" a Zona Sul inteira com salva de 2 potentes bombas (de festim) de seus canhões de 44 polegadas. Janelas estilhaçaram, prédios tremeram e uma ala antiga do Copacabana Palace ruiu... ninguém morreu porque não havia turistas lá, os preços exorbitantes mantinham o tradicional Hotel às moscas. A coleção de vasos Ming antiquíssima de um diplomata chinês "virou farelo". Assim que o embaixador amarelo soube, ficou verde, depois azul e, por fim, saltou do nono andar... "virou farelo" lá embaixo, primeira vítima da guerra que se avizinhava.

Trump enviou 2 secretários para falar com o jovem embaixador brasileiro, em New York, pedindo que "providenciasse" a volta dos 3 americanos encarcerados:

-- "Sinto muito, não posso, papai ficaria aborrecido" !

-- "Aborrecido quem ficará é o nosso "President", isso vai te custar muito caro, senhor Embaixador, pode apostar" !

Trump mandou cortar água, luz e linhas telefônicas no casarão da Embaixada enquanto seus 3 cidadãos não chegassem ao país. Com "mariners" em torno do prédio condenou todos a passar fome e sede. O filho ligou desesperado para o Palácio do Planalto, a bateria do celular arriando:

-- "Papai, em nome de Jesus, resolva logo isso, o pessoal aqui está ficando desesp..., papai, papai" !!!

O "velho da pistola" chamou às pressas seu Ministro da Guerra, general Moleirão, exigindo retaliação imediata, apesar da oposição enérgica do militar tarimbado:

-- "Aqui quem manda sou eu... envie nosso melhor navio de guerra para confrontar o inimigo ou "cabeças vão rolar" !

O general optou por não contrariar o "Consagrado", escolhido por Deus (?!) -- que estava bêbado -- para governar o país. Contudo, preveniu o Almirante que comandava o "Tartarugão" ("Big Turtle"), velho porta-aviões americano desativado lá nos anos 50 e nos vendido como a última maravilha.

-- "Almirante, não faça nenhuma besteira, não dê 1 tiro sequer, a situação é grave e pode piorar, o "destroyer" deles tem escudo antimísseis e eletroímãs (com inversor) no casco, que "devolvem" os torpedos ao ponto de origem" !

Identificado pelo radar, potentes binóculos visualizaram o "Belzonte", mera "jangada" de menos de 80 metros de comprimento. Mais de 1000 "mariners" postaram-se nas bordas de supertransatlântico monumental, rindo às gargalhadas. Secretamente, dúzia e meia de generais do "staff" do presidente reuniram-se para achar uma saída para a crise, uma solução salvadora. O mais gaiato manifestou-se:

-- "Sem o burro, a "carroça" não anda... tire-se o burro" !

-- "Não é hora para brincadeiras, general, nos poupe de suas graçolas, em nome de Jesus" !

Não brincava e explicou seu plano, aplaudido por todos !

Alguns telefonemas libertaram o casal e o filho foi retirado do SAM - Serviço de Atendimento ao Menor, todos levados por um General -- com pedido oficial de desculpas -- até a colossal belonave. Enfim, tudo se resolvera a contento... a honra do Exército fôra salva ! Para isso contribuiu a idéia genial de dar "um chá de sossega leão" ao presidente -- o famoso ROUPINOL, ou "boa noite, cinderela" ! -- que o fez dormir por 3 dias, o que já fazia no Congresso, nos 30 anos anteriores.

Ao acordar, viu o tamanho da traição e demitiu os generais todos, substituídos por tenentes e sargentos que, estando abaixo de sua patente, triam forçosamente que obedecê-lo cegamente, assim reza o Regulamento do quartel. Nem isso o salvou da derrota nas urnas e, no segundo turno, o país viu renascer "das cinzas" -- ou das elas -- o "Sapo Barbudo", vermelho de ódio incontido a disputar com o "Janjão História", misto de FHC com Pedro Malasartes (*3), escondendo com maestria suas deficiências e ineficiência. Enquanto o povo brasileiro não aprender que eleições não resolvem coisa alguma -- se não corrigirmos nossa FALTA DE CARÁTER -- nos resta "encher a cara", "tomar um porre" diário para suportar a realidade do Brasil, escreveu PAULO FRANCIS em seu "30 Anos esta Noite".

Trump mandou lacrar a Embaixada, deportou seus ocupantes e fez a Justiça local condenar o titular dela, punido com o castigo de varrer as ruas da "Big Apple" vestido de gari. Virou atração mundial !

"Quem não tem dinheiro conta história", diz o bordão de "Paulinho Gogó", do humorístico da TV SBT "A Praça é Nossa"... só espero que esta não me dê um processo ou me leve pra cadeia, nessa Ditadura mal disfarçada que o Brasil sempre foi. Oremos... em nome de Jesus" !

"NATO" AZEVEDO (em 6-7/set. 2019)

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OBS: (*1) "COM AS CACHORRAS" - expressão popular muito antiga, espécie de gíria dos anos 60/70.

(*2) - jamais se imaginou que tola confusão num "bondinho" se transformasse em conflito internacional.

(*3) PEDRO MALASARTES - mentiroso profissional (do folclore português) sempre a dar golpes e a enganar os ingênuos que acreditassem nele.