Constructo

Na tarde em que fui levá-lo à estação ferroviária, expressei a Williamson o temor de que fosse esta a última vez em que iríamos nos ver.

- Você não deve temer por isto - confortou-me ele. - Tenho para mim que tudo existe, para sempre.

- Como, tudo existe para sempre? Coisas e pessoas morrem, desaparecem - objetei.

- De fato, mas nem por isso deixam de continuar a existir - insistiu ele. - A diferença, é que num momento, possuíam existência concreta, e noutro, existência subjetiva. Mas continuarão a ser, de um modo ou outro.

- Se tudo sempre existiu, então poderíamos estar agora observando a partida das galeras romanas para destruir Cartago? - Cogitei.

- Ou pisando na superfície de Marte - sugeriu Williamson. - Se tudo existe, não importa se eu ou você vamos voltar desta guerra, porque agora, neste momento, estamos bem e em paz, e isto é tudo o que importa.

E com isso, trocamos um abraço e pouco depois o vi partir, num trem cheio de soldados vestidos de cáqui, como ele. No dia seguinte, chegou a minha vez de seguir para a costa e embarcar rumo ao front, no continente.

De fato, eu e Williamson nunca mais nos reencontramos, ao menos, não em forma física. Mas isso, como ele havia colocado, não era realmente importante.

- [05-09-2019]