Entre a Crisma e a cisma...
Eu estava pronto para receber a Confirmação do Batismo. Apesar de ainda muito novo, quiçá por fazer quatro anos, se não tinha entendimento, tinha admiração e até temor daqueles rituais eclesiásticos, ainda celebrados no mais notório latinório. E a oportunidade era única e apropriada, afinal coincidia com a solenidade da vinda do titular da Arquidiocese de Belo Horizonte ao modesto povoado do Brumado de Pitangui, Sua Eminência Dom João de Resende Costa.
Tio Antônio, escolhido como padrinho, estava bem feliz, enfatiotado em seu terno domingueiro de linho e de alinho, e pronto para receber a bênção juntamente com o primogênito varão do mano Luiz.
A lembrança do cenário e dos passos da cerimônia, é-me compreensiva, e convenientemente, bem tênue, eu lhes confesso, e comungo, expresso, para não lhe furtar o ingresso, caro e paciente leitor. Um único lance daquele evento me é dado reconstituir com nitidez no breu da memória, foi justamente quando, nos braços de tio Antônio ao me deparar com aquela visão ameaçadora, que na verdade era a mitra arquiepiscopal sobre a sacra cabeça de Dom João, pendendo cheia de graça rumo ao meu indefeso corpete, minha reação imediata foi de, acoplada ao berreiro, emitir vigorosa explosão urinária.
Tio Antônio, o mais diretamente afetado, não se fez de rogado, e até praga há de ter rogado, afinal, naquele ato, tenho essa cisma em plena Crisma, logo o seu terno fora por mim batizado...em urro de menino mimado...