Abordando Antônio...
Já octogenário, pensionado e sem as amarras do casamento - que, acontecido aos 64 anos, não chegara a completar seis meses - tio Antônio continuou com a sua itinerância, em Pitangui, e em cidades vizinhas, tocando a prática da amolação ... de ferramentas que, se mal lhe suplementava a renda, rendia papos, andanças e umas caçoadas, pra lá e pra cá...
Casada com seu mano caçula Luiz, mamãe, a Zezé, também no gozo da aposentadoria, passara a compartilhar algumas atividades externas da manutenção do lar, como pagar contas de luz e comprar aviamentos para a costura e reparos, principalmente. Depois de décadas socada na fapa, mamãe até se comprazia com essa nova e saudável investidura, pouco se importando com a topografia desafiadora da Velha Serrana, outrora tão aurífera.
E não é que na desincumbência dessas nobres tarefas que mamãe, ao voltar para casa, passando pelas imediações de fábrica, espantou-se ao ver tio Antônio debruçado contra uma mureta, ladeado por sua indefectível banca de amolação e maleta de pano...
A primeira sensação que lhe ocorreu foi de aproximar-se do cunhando e providenciar-lhe socorro, se necessário. E ao tocar-lhe o ombro, indagou:
- Ué, Antônio, cê tá se sentindo mal, precisa de ajuda?
Ao que lhe veio a resposta, quase que estrepitosamente jocosa:
- Tô não, Zezé. Tô é urinano...urina sorta...