Detalhes

Quando Frau Standfuss abriu a porta da cozinha, ainda enxugando as mãos no avental, e deparou-se com o rosto inchado e vermelho de Frau Heise à sua frente, sabia que algo terrível havia acontecido.

- O que houve? - Indagou, aflita.

- A Klara. Ela enlouqueceu! - Exclamou a visitante, entrando e desabando num banquinho, ao lado da tina de madeira onde Frau Standfuss estivera lavando louça.

- O que houve com Klara? - Questionou Frau Standfuss, mãos na cintura.

- Mark está em casa? - Inquiriu Frau Heise em voz baixa, olhando para os lados.

Frau Standfuss balançou negativamente a cabeça.

- Ainda não chegou da loja... e deve passar na taverna para tomar um trago antes de vir. Mas... o que houve com Klara, afinal?

Frau Heise abanou a cabeça, desconsolada.

- Adolf... ele saiu da prisão. Foi direto ver a Klara.

Frau Standfuss levou as mãos da cabeça.

- Adolf? Você fala do... ex-namorado da Klara?

Frau Heise fez um gesto afirmativo.

- A impressão que tenho, é que o amor dos dois estava apenas adormecido, como brasas sob as cinzas de uma fogueira... e quando Adolf surgiu lá em casa, foi como se um vendaval soprasse as cinzas e provocasse um incêndio. Klara me disse que iria embora com ele... e escreveu um bilhete para entregar ao Mark.

Puxou um pedaço de papel do corpete e entregou-o à dona da casa. Ela o abriu, e leu o conteúdo de relance. Uma sombra caiu sobre o seu rosto.

- Klara acaba de condenar o meu filho à morte - declarou Frau Standfuss, os braços pendendo ao longo do corpo.

* * *

Sentados sob uma árvore, no alto de uma colina à saída da cidade, Adolf e Klara contemplavam o pôr do sol. Klara tinha a cabeça apoiada no ombro do amado.

- E o que iremos fazer agora, meu amor? - Indagou a jovem de cabelos ruivos.

- Por ora, apenas contemplar como o sol faz brilhar o cobre dos seus cabelos - replicou o rapaz, correndo os dedos pelos cachos de Klara. - Mas, quando descermos, haverá um automóvel à nossa espera na estrada...

- Para nos levar para onde, Adolf? - Sussurrou ela.

- Para Munique, Klara... depois, Berlim... e depois, o mundo! - Replicou ele com convicção, os olhos azuis faiscando.

- Isso... tem alguma coisa a ver com política, Adolf? - Indagou a jovem, erguendo a cabeça e encarando-o, apreensiva.

- Tudo é política, Klara - retrucou Adolf, com um sorriso feroz. - Menos, é claro, o meu amor por você.

- Mas não foi por causa da política que o prenderam, Adolf? - Insistiu Klara.

- Isso foi antes - desdenhou ele. - Agora, todos estão do meu lado. E vamos mudar de assunto, sim? Não deve ocupar essa bela cabeça ruiva com esses assuntos áridos... deixe que eu pense nisso por nós dois!

- Sim, Adolf - suspirou Klara, voltando a recostar a cabeça no ombro do rapaz.

E fechou os olhos, alheia ao mundo, ao brilho do sol que se punha, ao vento que acariciava seu rosto.

Feliz.

- [08-08-2019]