Morou, Moreira...?
Sô Moreira enviuvou, depois de mais de cinquenta anos de conjugal consórcio com dona Jucunda. Jucunda foi a esposa e mãe dedicada. E ainda cuidava de suas plantinhas, da arrumação da casa e até conseguindo achar tempo pras rezas, rogações e novenas na capela quase vizinha.
O que tinha de melhor em seu fogão, em sua mesa, era passado zelosamente ao marido que, embora mais pra rueiro do que caseiro, sempre enfiava a mão na algibeira para as parcimoniosas despesas da casa. E nunca lhe faltava o cobre miúdo. O grosso, por precaução, ficava no banco.
Quando Jucunda se foi, mal entrado nos oitenta, Moreira, no vazio da casa, foi socorrido pela marmita de um dos filhos, e sucessivos e nem sempre bem-sucedidos cortes de despesa. O apagão afastou até o filho mais ligado que vinha fazer companhia ao progenitor.
À filha que reside nos fundos, com a família, o Moreira chegou a perguntar se não poderia comprar papel higiênico picado, pois o seu rolo fora posto a secar ao sol, após haver caído no vaso.