A Deriva do Ar
Nunca vão acreditar em nós – Disse, para meu gato ao lado.
Realmente, olhando daqui todos são pontos – Reponde ele.
Navegar em um barco pelos ares, quem diria que a ideia de usar nuvens como velas ia funcionar
Sou um gato engenhoso tome isso como uma sorte, ou não – diz lambendo a pata.
Você quer voltar para a terra? Digo, para a realidade?
Não, detesto toda a crueldade lá de baixo, acredita que tentaram cortar minha cauda?
Mas claro que sim, o mal é um caminho mais fácil que o bem.
Com certeza, agora vamos entrar na cabine. É um barco de pesca, e essas nuvens como velas logo irão chover.
A chuva veio, e nosso pequeno barco se encontrou a deriva em outro local, eu e meu gato estávamos totalmente perdidos.
Onde estamos? Perguntei a ele.
Caímos, as nuvens se dissiparam com a chuva.
E agora? - Pergunto tranquilamente
Ele não responde, apenas mia.
Retorno novamente pra realidade sem graça de sempre.
Volto pra casa, sozinho novamente. A realidade é difícil aqui, tem remédios na mesa e uma pilha de contas que facilmente se tornariam um exemplar bíblico de alguma religião. Tento navegar novamente mas minha mente se perdeu. Não tenho ninguém, apenas meu gato, a maioria das pessoas acham que a solidão é uma dádiva perpétua, mas é uma tortura contemporânea. Na parede, um quadro com um pequeno barco pende e apenas com um prego a segurá-lo. Fico na dúvida se é real ou não. Enfim, tomo os remédios, e tento navegar para o meu inconsciente tranquilo e mágico mais uma vez.