O Horóscopo
Há muitos anos, entrevistei N., o astrólogo, que disse ter desenvolvido um método utilizando a informática, para computar a probabilidade da morte de alguém.
- Devo ressaltar que esse método prevê apenas os casos de morte não-naturais - explicou ele. - Aqueles que ocorreriam antes do término normal da vida de alguém.
- Ou seja, o seu horóscopo por computador seria capaz de me informar para não sair de casa, se houver, por exemplo, o risco de me envolver num acidente fatal? - Indaguei.
- Precisamente. Todavia, se você estiver predestinado a morrer por causas naturais… de doença oriunda do envelhecimento, ou de maus hábitos, por exemplo, não haverá qualquer alerta por parte do sistema.
- Mas visto que o seu programa evita que mortes aconteçam, como vamos saber se elas se concretizariam caso nada fosse feito?
- A única maneira honesta de responder à sua pergunta seria dizer: ignore o aviso do horóscopo e faça o que achar melhor. Se nada acontecer, é possível que a probabilidade do evento se realizar não fosse tão alta assim. Mas por que arriscar?
Esse era o ponto. Muita gente comprou o tal programa, e de fato, testemunhos de clientes satisfeitos indicavam que poderiam ter morrido de formas atrozes, caso não houvessem comprado o vidente eletrônico de N..
Mas, pouco tempo depois, as pessoas começaram a questionar se o uso dessa babá eletrônica não estava tornando sua existência menos divertida e mais conformista. Deixar de fazer determinadas coisas, pelo medo de que isso pudesse abreviar a vida, não parecia justo.
O método de N. caiu em desuso, e como ele jamais liberou o seu algoritmo para estudos, este morreu com ele.
A propósito, N. morreu em casa, de causas naturais. O que, de qualquer forma, não serve para corroborar a validade do seu método.
-[20-04-2019]