PERIPÉCIAS DO "deus PEPÉ"

ADENDO: esta é uma "contrônica", uma tentativa de produzir 1 conto a partir de fatos e eventos realmente acontecidos.. mas "adaptados" à estória. Se um dia alguém editar uma "coletânea FEBEAPÁ" -- leia-se "Festival de Besteira que Assola o País" -- espero ver este despretensioso trabalho (?!) entre os escolhidos. A inspiração para estes "rabiscos" me veio de uma dúzia de cópias "xerox" de livro sem identificação e 9 páginas manuscritas supostamente extraídas da obra "Introdução ao Estudo da Filosofia", de BORHEIM (Alberto Gerd), edit. RECORD, Rio, 1980, tudo achado nos "lixões". As afirmações entre aspas foram reproduzidas "in totum" das citadas cópias.

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PERIPÉCIAS DO "deus PEPÉ"

Na Grécia de tiranos e democratas, uns 5 ou 6 séculos antes da vinda de Cristo -- que nada tem a ver com esta estória -- "pululavam" filósofos, alguns "repatriados" após um bom tempo de exílio. O Partido que perdia as eleições tinha seus líderes executados em praça pública, caso não fugissem ou aceitassem o desterro obrigatório. Estes derrotados aportavam na Itália... por mar, quase sempre, dia e meio num barquinho mal ajambrado, cruzando apavorados o Mar Jônico até as regiões da Calábria ou da Sicília, "redutos" gregos na época e "celeiros" de intrigas contra a Grécia, a partir dos seus refugiados, que só voltavam à terra natal com o fim do tirano. Ditadores duravam pouco (naqueles tempos, pelo menos) e, assim que tiram-no (?!) do Poder os exilados voltam, "tropeçando" uns nos outros tantos eram os filósofos e "pensadores" que os ares helênicos produziram.

Se o consagrado Pitágoras era uma "mistura de filósofo, profeta, homem de ciência e charlatão" (*1), o que se dirá de nosso herói, o "Pepé", digo, EMPÉDOCLES, também degredado no sul da Sicília e voltando a sua Grécia para virar um... "Deus" ?!

Mas isto sucedeu no final dos seus dias na Terra, uns 30 ou 40 anos depois do início da nossa saga empedocliana. Até a desgraça final muita água rolou... só não foi sob a ponte, pois esta não existia. O sisudo Empédocles foi "bater" em Acraga, lugarejo sem graça e nem gente, no sul da Sicília. Lá deu de cara com um chinês malandro e malabarista, já tentando naquela época vender "bugigangas" amarelas (e de outras cores, também) aos locais... cabras, bezerros e italianos com jeito de mafiosos.

Ficaram amigos e foi o chinês que tomou a liberdade de apelidá-lo, já que não conseguia pronunciar

tal "palavrão", muito menos o L final. Ali conheceria o menino "Pollitto" (pequeno Polo, em italiano) que a Europa inteira admiraria breves anos depois.

-- "Porito", vá pala a China... tem muita "xing-ring" lá que seu Mundo não viu" !

E lhe mostrava os poderes do "pozinho negro" que explode, o papel do qual trouxera mostra e falava das maravilhas do seu país. A família do jovem Marco Polo mudou-se em seguida para Gênova, com as conversas crescendo dentro do garoto a vontade de navegar ao país desconhecido, de imperadores cruéis e dragões nas ruas e casas. Entre equilíbrio de pratos, exercícios com malabares e o estranho "rodar de baldinho" cheio d'água -- a bandida não saía nem com o balde virado para baixo -- o "china" lhe ensinou a fazer "ki-nojo", um segredo ancestral dos palácios reais do país dos mandarins. "Pepé", digo, Empédocles, viu ali a chance de voltar m grande estilo à terra natal. Já tinham passado uns 10 anos do degredo e tiranos não duravam tanto ! Como a "grana" findara, regressou por terra, 333 dias andando -- de noite descansava, que ninguém é de ferro -- passando por Roma, cidade dos Césares. Mostrou sua receita numa cantina que servia ao Imperador... agora com o título de "MacArron", na verdade nome de seu bisavô materno, irlandês navegador que se perdeu nas Ilhas gregas. A massa ("pasta") fez estrondoso sucesso mas êle não pôde curtir seu momento de fama, o cozinheiro "revelou" que um chinês de passagem "lhe ensinara". Algum tempo depois Marco Polo voltaria da China... dizem que nem foi até lá, econtrou um barco amarelo "no caminho" e comprou tudo deles. As histórias todas êle não inventou, repetia apenas o que ouvira do chinês trapezista durante sua infância.

"Pepé" pisou na Grécia causando espanto... "assimilara" um pouco de cada região pela qual passeara, acrescentando à sua insignificante figura todo tipo de "badulaque", de penduricalho artístico com o qual tropeçou. Dos gauleses a coroa de flore nos fartos cabelos, dos suíços as "suíças" e dos germanos espécie de "chapéu de chifres" que o deixava com cara de doido ! Em toda aquela parte do Mundo os loucos não eram incomodados, acreditava-se que tinham contato com Deus.

"Pepé" procurou Thales de Mileto, pensador respeitado, que citava a ÁGUA como a origem de tudo, num combate de idéias com Anaximenes, que preferia o ar: "A alma (do Mundo) é o ar, o fogo é ar rarefeito, a água é ar que se condensa e que vira terra e, adiante, pedra". Anaximandro seguiria "teoria" semelhante, ao criar o "Apeyron", espécie de Infinito, de onde surgiu tudo. De tanto pensarem, nasceu assim a Filosofia ! (*2) "Pepé" não estava "nem aí" para essas bobagens, precisava de um"padrinho" forte para sua "Teoria da Evolução" -- que, dizem, Darwin conheceu e adaptou às suas pesquisas -- mas Thales o escorraçou... ainda não se recuperara da destruição de sua obra-prima lá no Egito, a escultural "Vênus do Nilo", encomendada por um Faraó. Um artista egípcio invejoso a vandalizara, quebrando-lhe um braço e decepando a bela cabeça. Teve êle igual fim, por ordem do Faraó, que decidiu tê-la no seu sarcófago, na câmara mortuária, quando parisse para falar com Osíris. Séculos depois arqueólogos a descobririam, em todo o seu esplendor.

A Grécia inteira se perguntou: "quem fez isso" ?! Um certo Marathon, de passagem pela terra da pirâmides, soube do ocorrido e apressou-se em levar aos gregos o nome do autor da desgraça. Correu 42 DIAS sem parar, nadou meio mar Mediterrâneo e "desabou" na porta de Mileto, cuspindo sangue:

-- "Tio "Thatá", foi... EUREKKA" !

Em pouco tempo Atenas inteira descobriu quem vandalizou a bela estátua. Só que na "tradução" da estória para o Português um "espertalhão" escreveu "Karaglio" e outro mal intencionado "Puttakê-pahril", sendo comum -- no Brasil inteiro -- o uso das 2 formas para indicar espanto quando se DESCOBRE alguma coisa, principalmente ruim. Mas, voltemos à vida do "Pepé", que isso não é tratado de filologia !

"Pepé" foi de Seca a Meca, bateu na porta de todos os pensadores importantes, vivos e mortos, queria ser famoso a qualquer custo. Heráclito, que o estimava, mandou dizer que viajara, Sócrates o excomungou e depois tomou cicuta, de vergonha daquela figura ridícula. Demócrito, Aristóteles, Platão, Protógoras, Parmênides e até Zenão de Eléia (que conhecera na Sicília) fugiam espavoridos e esbaforidos dele. (*3) Estava irremediavelmente só ! Entrou numa taverna, pediu vinho e solicitou que a dona o acompanhasse. Eis que teve um "insight", uma "revelação", uma idéia genial ! Sem que ela percebesse, derramou gotinhas de um preparado chinês no caneco dela... a senhora "dormiria" por alguns dias em letargia profunda, depois acordaria pelas mãos de seu herói, o "filósofo maior" EMPÉDOCLES.

A taberneira "caiu dura" nos braços do charlatão que, aos berros, chamou a atenção da cidade inteira. Uns 2 dias depois tentaram enterrá-la... êle impediu, arreganhando os dentes como um lobo ferido ! Era LOUCO... melhor não contrariá-lo ! Passaram 10, 15, 20 dias e nada, a velha não dava nem sinal de vida. Toda a Grécia sabia do ocorrido, excursões de outras regiões vinham visitar o louco "Pepé", que faturava alto na estalagem, agora por conta dele! Aos 30 dias a idosa acordou, sonsa, tonta com tanta gente ao redor, a Medicina não explica como alguém resistiu tanto sem comida nem água.

Tratado como um "deus", "Pepé" acabou mesmo crendo ser um. Reuniu a multidão e declarou:

-- "Vou saltar do vulcão Etna, sou um "deus" e posso voar, vocês verão" !

A cidade inteira o levou em festa, numa liteira ornada com flores, ao pé do vulcão ainda ativo, lavas frementes no interior. Atirou-se sem receio no espaço vazio, indo findar entre as pedras ardentes, virando "churrasco" em segundos. Ganhou poesia (*4) e estátua, mandada esculpir pelos oleiros momentaneamente ricos com a quebra de pratos em homenagem ao "suicida":

"O Pepé foi grande em tudo,

mesmo tendo pouco estudo

nas artimanhas se fez.

Tenho o desgosto profundo

de vê-lo iludir o Mundo

e o povo "virar freguês".

Ao ter do ETNA saltado

findou morrendo "torrado"...

foi o "Deus da Estupidez" !

"NATO" AZEVEDO (em 16/fev. 2019, 21 hs)

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OBS. AO TEXTO: (*1) conforme citação na pag. 62, cap. VI, sobre EMPÉDOCLES, autor e obra não identificados; (*2 e *3) essas descrições estão no caderno manuscrito, com letra feminina, assim como todos os nomes de filósofos citados; (*4) ainda segundo a obra sem autor, Parmênides e Empédocles escreviam suas teorias em versos e, este, após a morte, mereceu poema de um certo Mathew Arnold.