Meu namoro com o chá e uma certa vaca
Shi, espero que não tenham confundido o tema, é chá, sim, isso mesmo ervas; mate, camomila, sidreira, erva doce, capim santo, folhas de laranjeiras, e por aí vai, até chegar nos mais exóticos...
Faz-me bem falar das coisas que gosto e às vezes faço isso a mim mesmo, uma velha mania que nunca perdi, de pensar e falar sozinho, mas quero dividir com alguém, quem sabe assim como eu, também gosta de chá.
É para mim uma historinha bem romântica, pois a precursora dessa saudável mania de tomar chá foi a minha inesquecível tia Aurora*, - nossa! Como sinto saudades dela, ela era tão bacana, penso que toda criança tem o direito de ter uma tia legal, a minha, então superava todas as expectativas.
Sempre as cinco da tarde ela tomava chá, mas não era assim, só tomar um chá, tinha todo um ritual umas coisinhas que de tanto serem bem arrumadas, dava na gente, em mim principalmente a impressão de estar indo para uma solenidade. O que me deixava raivoso é que isso acontecia sempre no melhor da pelada com os moleques da rua. Lá no bairro onde ela morava.
Eu era o primo pobre que ia pra casa da tia rica para ter uma instrução melhor, isso eu aproveitava bem, mas puxa vida, só sobrava pra mim, tudo era comigo, Souzinha faz isso, faz aquilo e os filhos dela não faziam nada, ufa... até pra tomar o bendito chá com ela eles se esquivavam e eu tinha que fazer as honras, sala pra minha tia. Mas terminei me acostumando e gostando daquela arrumação.
Quando não podia ir para casa dela sentia saudades de tudo e também do chá das cinco. A sala grande, ela na cadeira de balanço, eu sentado no chão perto dela, a mesinha com vários biscoitos, bolachas, manteiga, bolos, uma fartura imensa. Todavia o que mais me distraia eram as historinhas que ela me contava, eram cada uma que às vezes eu pensava que ela estava me fazendo de bobo. Várias dessas histórias eu já passei à frente se acreditaram ou não, eu não sei.
Uma que eu guardo até hoje e que eu vou contar aqui, agora; até para dar melhor sentido nessa prosa, é a seguinte: dizia ela:
- Lá no interior onde eu morava, tinha um rapash (rapaz) ela falava chiando..., até de boa aparência, empregado de meu pai que gostava de contar causos de assombração para mim e para outras mocinhas minhas amigas da época, sempre à boquinha da noite, lá na frente de casa. Ele contava as histórias dele depois ia embora e as meninas ficavam morrendo de medo pra dormir. E eu disse: - Conte uma delas, a Senhora se lembra? Ela disse: - sim, claro.
Uma delas:
- Um dia ele contou que tinha uma vaca preta que haviam matado, ela estava prenha e os matadores não sabiam. Quando ela morreu foi que notaram, então quando foram abrir a barriga da coitada os bezerrinhos estavam todos chorando como se gente fosse. Coisa rara, porque vaca só pare um bezerro por ano. Eles não souberam o que fazer e enterraram os bezerrinhos ainda vivos. Isso ficou em segredo.
E continuou contando:
- Ele fazia tanto suspense na história dele que só em contar já dava medo.
- Daquele dia em diante o espirito da vaca mãe começou a perturbar as meninas moças daquela cidade e quando menos elas esperavam a vaca estava dentro do quarto das meninas e elas ficavam mudas então a vaca pegava a moça e levava até o local onde os bezerrinhos estavam enterrados e queria enterrar as meninas também.
E eu falei: - Nossa, Tia! Que história feia! E as meninas?
Ela me disse: - ah, elas coitadas, iam dormir assombradas. No outro dia era só o comentário. - Poxa quase que eu não durmo de tanto medo. Outras, também, a mesma história. Mas sempre tinha uma que dizia: - eu não; dormi foi bem, acordei alegre e satisfeita que medo que nada...
Eu fiquei pensando: ... - o cara era pilantra..., então eu perguntei pra ela: - E a senhora não dormia assombrada não?
Então ela olhou pra mim, meio desconfiada e me disse: - Não, comigo não; Deus me livre! Aí eu olhei pra ela meio atravessado e ela falou: - Só uma vez que eu já estava pegando no sono e eu só senti foi aquela mão passando por debaixo da rede... dei um pulo! Só vi foi um vulto passando pela janela...
Eu olhei pra ela, me levantei e disse: - tá bom Tia não conte mais não... senão quem não vai dormir sou eu... sai pensando: - ah, pilantra, pegava todas as meninas..., será que minha tia foi no bolo?... rsrrs
E assim as tardes de chá eram sempre divertidas, até hoje tenho esse hábito de tomar chá...
Alguém tem um chá por ai?!...
*nome trocado
Shi, espero que não tenham confundido o tema, é chá, sim, isso mesmo ervas; mate, camomila, sidreira, erva doce, capim santo, folhas de laranjeiras, e por aí vai, até chegar nos mais exóticos...
Faz-me bem falar das coisas que gosto e às vezes faço isso a mim mesmo, uma velha mania que nunca perdi, de pensar e falar sozinho, mas quero dividir com alguém, quem sabe assim como eu, também gosta de chá.
É para mim uma historinha bem romântica, pois a precursora dessa saudável mania de tomar chá foi a minha inesquecível tia Aurora*, - nossa! Como sinto saudades dela, ela era tão bacana, penso que toda criança tem o direito de ter uma tia legal, a minha, então superava todas as expectativas.
Sempre as cinco da tarde ela tomava chá, mas não era assim, só tomar um chá, tinha todo um ritual umas coisinhas que de tanto serem bem arrumadas, dava na gente, em mim principalmente a impressão de estar indo para uma solenidade. O que me deixava raivoso é que isso acontecia sempre no melhor da pelada com os moleques da rua. Lá no bairro onde ela morava.
Eu era o primo pobre que ia pra casa da tia rica para ter uma instrução melhor, isso eu aproveitava bem, mas puxa vida, só sobrava pra mim, tudo era comigo, Souzinha faz isso, faz aquilo e os filhos dela não faziam nada, ufa... até pra tomar o bendito chá com ela eles se esquivavam e eu tinha que fazer as honras, sala pra minha tia. Mas terminei me acostumando e gostando daquela arrumação.
Quando não podia ir para casa dela sentia saudades de tudo e também do chá das cinco. A sala grande, ela na cadeira de balanço, eu sentado no chão perto dela, a mesinha com vários biscoitos, bolachas, manteiga, bolos, uma fartura imensa. Todavia o que mais me distraia eram as historinhas que ela me contava, eram cada uma que às vezes eu pensava que ela estava me fazendo de bobo. Várias dessas histórias eu já passei à frente se acreditaram ou não, eu não sei.
Uma que eu guardo até hoje e que eu vou contar aqui, agora; até para dar melhor sentido nessa prosa, é a seguinte: dizia ela:
- Lá no interior onde eu morava, tinha um rapash (rapaz) ela falava chiando..., até de boa aparência, empregado de meu pai que gostava de contar causos de assombração para mim e para outras mocinhas minhas amigas da época, sempre à boquinha da noite, lá na frente de casa. Ele contava as histórias dele depois ia embora e as meninas ficavam morrendo de medo pra dormir. E eu disse: - Conte uma delas, a Senhora se lembra? Ela disse: - sim, claro.
Uma delas:
- Um dia ele contou que tinha uma vaca preta que haviam matado, ela estava prenha e os matadores não sabiam. Quando ela morreu foi que notaram, então quando foram abrir a barriga da coitada os bezerrinhos estavam todos chorando como se gente fosse. Coisa rara, porque vaca só pare um bezerro por ano. Eles não souberam o que fazer e enterraram os bezerrinhos ainda vivos. Isso ficou em segredo.
E continuou contando:
- Ele fazia tanto suspense na história dele que só em contar já dava medo.
- Daquele dia em diante o espirito da vaca mãe começou a perturbar as meninas moças daquela cidade e quando menos elas esperavam a vaca estava dentro do quarto das meninas e elas ficavam mudas então a vaca pegava a moça e levava até o local onde os bezerrinhos estavam enterrados e queria enterrar as meninas também.
E eu falei: - Nossa, Tia! Que história feia! E as meninas?
Ela me disse: - ah, elas coitadas, iam dormir assombradas. No outro dia era só o comentário. - Poxa quase que eu não durmo de tanto medo. Outras, também, a mesma história. Mas sempre tinha uma que dizia: - eu não; dormi foi bem, acordei alegre e satisfeita que medo que nada...
Eu fiquei pensando: ... - o cara era pilantra..., então eu perguntei pra ela: - E a senhora não dormia assombrada não?
Então ela olhou pra mim, meio desconfiada e me disse: - Não, comigo não; Deus me livre! Aí eu olhei pra ela meio atravessado e ela falou: - Só uma vez que eu já estava pegando no sono e eu só senti foi aquela mão passando por debaixo da rede... dei um pulo! Só vi foi um vulto passando pela janela...
Eu olhei pra ela, me levantei e disse: - tá bom Tia não conte mais não... senão quem não vai dormir sou eu... sai pensando: - ah, pilantra, pegava todas as meninas..., será que minha tia foi no bolo?... rsrrs
E assim as tardes de chá eram sempre divertidas, até hoje tenho esse hábito de tomar chá...
Alguém tem um chá por ai?!...
*nome trocado