EU SÓ QUERIA PAZ
A vida ainda anda embaralhada. Uma desesperança lateja na veia. Eu já disse que o amor é algo que preocupa qualquer coração que quer paz quando o sol no horizonte pulsa mais que o desejo preso em mim. Tudo o que a vida me oferece pela manhã, a morte tenta tirar de mim pela tarde, antes que a noite chegue com os seus encantos e me convide para a seara da escuridão...
Eu viajo pelas aragens dos prazeres superficiais. Ninguém pode me condenar. Ninguém tem haver com isso, eu me convenci dessa premissa. Então me mergulho no que pode ser a minha tábua de salvação. O corpo de Meg tem sido algo parecido a qualquer metáfora sobre o último sopro de perspectiva para mim.
No dia seguinte eu sempre estou destruído. Nada de dinheiro e nada de vontade de ir a algum lugar. Apenas os pés querendo tocar o piso frio. Arredo o tapete para um pouco distante e esbofeteio o chão do meio quarto com meus pés raquíticos. A roupa de ontem está espalhada pelo chão feito entulho do cidadão que não faço mais questão de ser.
Meg é magia. Meg é o que resta depois que achei não ter mais nada. Ela deixa uma lembrança de cada abraço, de cada beijo, de cada gesto, que fica ocupado o que ainda tenho de memória.
Eu deletei de dentro de mim minha infância no sítio. Minha adolescência em festas e travessuras. E minha vida adulta de irresponsabilidades. Tantas vezes mandado embora do emprego por justa causa. Tantas vezes despejados dos barracos por não pagar o aluguel. Algumas vezes apanhado pela polícia. E a vida não fazia mais sentido.
Naquela noite em que nada mais faltava para eu me suicidar, Meg cruzou meu caminho, ou eu cruzei seu ponto de trabalho. Ela sem cliente naquela noite e eu sem dinheiro e sem jeito para continuar a vida. O carinho dela, sim, foi carinho. Ela me permitiu entrar em sua vida e não apenas em seu corpo, me demoliu a ideia macabra de dar fim à minha existência. Eu a amei muito e não tem outro amor na minha vida para comparar à gratidão rotulada de paixão que passei a ter por Meg.
Mas eu sigo um paupérrimo em todos os sentidos. Meg segue em busca de clientes. Eu sigo em busca do que resta dela quando ela retorna na madrugada com o corpo amarrotado e a alma calejada.
Temo que Meg um dia se canse de mim. Temo ter que encarar a falta de opção para viver. O vazio total que arranca as vísceras e preenche o existir da abominável ideia de dar fim a tudo. Mas meu tudo já é quase nada. E Meg existe ainda.
Um dia Meg não voltou. Ninguém sabe o que houve. Apenas uma companheira de trabalho com uma história mal contada. Morte. Parece que anda pela noite um maníaco que assassina as prostitutas. Meg foi a quarta vítima.
Agora fiquei com o vazio completo. E aquela vontade de realmente por um fim nessa mania que tenho de destruir tudo o que pode ser meu. O carinho dela não foi suficiente para arrancar de mim esse meu defeito. E agora não sei se considero encerrado e me encerro com Meg ou se vou fazer minha ronda noturna em busca de outra mulher para saciar meu desejo de matar. Juro, eu não sei. O amor é algo que me preocupa. Eu só queria paz.