A Solidão Paradoxal

Tom Jobim já dizia: “é impossível ser feliz sozinho”. Talvez seja verdade, mas ela remava todos os dias contra a maré dos corações desesperados que anseiam companhia. Ela sempre afirmava, com uma veemência digna de verdade universal, que apreciava ficar só, e que a solidão não era um buraco negro que a hauria exaurindo a essência de seu ser.

Todos a admiravam. Ela exalava força, confiança e independência. Fazia mil e uma tarefas em míseras vinte e quatro horas. O que a todos era desconhecido é que, na verdade, ela se mantinha ocupada para suprimir a garota cheia de medos e inseguranças que nela habitava. Essa garota que não prezava, de fato, pela solidão.

Tal qual a experiência de Schrödinger na qual o gato encontra-se vivo e morto isocronicamente, é falar sobre solidão quando se está cercado de pessoas. É deveras moroso assimilar como esses dois eventos podem ocorrer simultaneamente. Ainda assim, esse paradoxo era uma constante em sua vida.

Rodeada de amigos, encontros e reencontros rendiam boas risadas. Mas no fundo, a mesma velha e conhecida sensação: solidão. Ela estava convicta de que ficaria só até o fim de seus dias, mesmo com amigos dizendo o contrário. Estava certa de que a melhor descrição para si mesma era desordem. Em meio aos pensamentos confusos e frenéticos, tinha dificuldade em encontrar sentido e estava certa de que se ela não era capaz de se compreender, quem seria?

Ela tinha plena consciência de que sua solidão era fruto de suas decisões. Foi criada para ser a filha perfeita. Era colocada em um pedestal e não havia espaço para erro. “Não havia espaço para erro”. Essas palavras ecoavam em sua mente e a induziam em um estado de isolamento. Sua vida se resumia em ser produtiva, bem sucedida, estar à disposição de todos, menos de si mesma. Por vezes sentia-se fatigada e permitia que sua mente divagasse e permeasse cenários de realidades alternativas. Não existe uma pessoa perfeita. É axiomático. Então, por que tentar ser a filha perfeita? Por que comprometer sua sanidade mental para atender as expectativas alheias?

Ela evitava refletir sobre esses questionamentos por um simples motivo: ela não sabia a resposta. Em seu âmago, ela gostaria de se arriscar um pouco mais e, quem sabe, experimentar um dos cenários decorrente de seus devaneios. Mas sua mente encontrava-se aprisionada e ela não via saída. Uma súbita coragem a fazia chegar à iminência de voar. Mas ela recuava e regressava para sua solitude.

Jessica Didole
Enviado por Jessica Didole em 26/01/2019
Código do texto: T6560056
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.