Que Lindeza...

Movido por um só desejo de entender o que significaria tudo isto que ninguém explica ou sequer estão a procura, e se estão, onde é que essas pessoas estão?! Ele havia decidido com tantos sentimentos contraditórios que iria embora, que havia chegado o momento fatídico da "quebrada", ou da "virada", ou de qualquer outro nome bobo de livros de auto ajuda que não fazem o menor sentido há não ser mesmo pela própria ideia.

Ele estava vestindo uma calça jeans básica, um adidas preto nos pés e uma mochila de mão. Ouviu ela dizer que acreditava que nunca mais se veriam... Isso mexe mesmo com você não acha? Ele seguiu pelo grande portão do aeroporto até encontrar a área de espera. Trinta horas depois, uma amizade de dois dias e uns minutos, começava ali à viagem, o que a gente busca, e jamais encontra, mas que pelo caminho se satisfaz e se satisfaz pelo simples fato de se permitir ir viver uma vida sem o calendário e relógio te guiando... pelo menos por momentos era assim. Nos dias de adaptação, enjôos e visitas irregulares ao banheiro, seu corpo se mantinha alerta por não entender 100% a outra língua, por não encontrar às coisas conhecidas no mercado, coisas materiais que te trazem "conforto"... se era pra ter isso ou ser assim, aliás, não entendia pessoas que planejam por anos e anos suas vidas insossas e sem graça, com aquela ideia absurda de que viajar uma vez por ano para a Europa era a satisfação total da vida...

Ele se apaixonou várias vezes... e viu apaixonarem-se por si e viu pessoas se permitindo, ele se permitindo e por vezes, ninguém... com aquele sorriso de lado e o baseado no canto da boca, alguns dias em uma praia, outros dias em uma cidade, outros dias isolado em uma chácara no meio do mato... cara, ele pensava consigo mesmo, essa tal liberdade de fazer o que tá afim de fazer, é real... estou mesmo escolhendo isso ou sendo levado pelas opiniões e oportunidades alheias a mim, pois são pelos contatos, pelos conhecidos que ele começou a seguir seu caminho, e claro por mais diferente que seja morar em uma ilha em pleno meio do pacífico sabendo que um tsunami pode engolir tudo em uma pacata noite do outono, e que em sua vida talvez uma outra pessoa não irá deitar com uma roupa íntima do seu lado no sofá se insinuando inteiramente para você, e o que fazer, esperar a hora do alarme, por a roupa, trabalhar, casar, ter filhos, envelhecer, ir para onde, até onde, e ele continuou ali, sem saber direito o que queria fazer, se era isso ai que era, desde que seja bom para si e para seu entorno, ele sempre pensava nisso... passaram cinco anos, entrou no sexto ano e olhou para trás... que vida legal!

se ao chegar na velhice você não estiver satisfeito com o que viveu, e quiser viver mais por que percebeu tarde demais que não iria dar tempo... muitas risadas gostosas e verdadeiras foram dadas com as lembranças mais distintas possíveis, dos amores, dos céus e montanhas, das experimentações radicais de surfar, escalar e pular de para-quedas, e das experimentações conhecidas como "slow", viva a vida, aproveite seu tempo, ele pensou nisso de novo, e voltou a pintar aquela tela que havia alguns meses começado...