MICROCONTOS... SEM "DESCONTO" !
O megasite cultural RECANTODAS LETRAS -- com quase 4 MILHÕES de postagens -- contém coisas curiosas. Na seção "Experimental" há os "NanoContos", textos onde só há o começo de algumas histórias, por vezes o meio, quase nunca o fim... "embarquei nessa canoa" e lhes apresento o que surgiu:
MICROCONTOS... SEM "DESCONTO" !
Dourados raios rasgavam a cortina de seda do que fôra a noite... por entre as brumas enevoadas, a negar a chegada da aurora, um vulto feminino se aproxima:
-- "É você, Alfredo" ?!
-- "Sim, Aurora, há tempo te espero" !
-- "Não precisa mais... vamos" ?!
E saem rua afora, de braços dados, enamorados !
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Caçavam desde meninos, primeiro com atiradeira e, agora, com modernos rifles de 2 tiros. Avistam a lebre ao mesmo tempo, afastados uns quantos metros entre si. Ringo atira primeiro, pega o bichinho no pulo, tiro duplo certeiro... uma rocha atrás ricocheteia o projétil e o ditado popular se concretiza: "matou 2 coelhos com uma rajada"! Enlutada, a família de José Luís Coelho jamais perdoou a "façanha' de Ringo !
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Na inexpugnável Alcatraz, sentado em velha mesinha carcomida pelos anos, o carcereiro divertia-se com o "travesti". De costas, o "traveco" passava horas intermináveis diante do espelho, pequeno armário plástico que toda cela possuía. A peruca imensa "escondia" o que fazia... "nada como um dia depois do outro", querido, ainda vou fugir desta prisão horrível"!
Jack "Snake" dormiu sobre a mesa e acordou vendo a cela vazia... o impossível sucedera ! Diante do espelho só o saquinho de jóias prediletas da "mona". Abriram a cela... no saquinho apenas areia e minúsculos pedaços de reboco e cimento. Aberto o armário, no lugar do fundo plástico, arrancado, um boraco na medida certa para passar a "boneca" magra. (A brecha ía dar na lavanderia e êle fugiu num saco de roupas sujas.) Escrito com batom, no espelho: "Nada como um dia depois do outro... adeus, palhaço!" A frase está a "martelar" na cabeça do carcereiro até hoje, demitido do serviço por incompetência !
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A cigana lhe dissera, categórica: "cuidado com as flores, vejo Morte no seu caminho, no último dia de fevereiro", mas a vigarista só queria seu dinheiro, ela não era besta de acreditar nessas "sandices". Em todo o caso... trancou-se o dia inteiro na data final, o fatídico 28, não recebeu nem amigos e livrou-se até das plantas que tinha.
Raiou março sem desgraças e ela, aliviada, saiu para fazer compras. No velho prédio centenário, com amplas varandas, o menino do 5º andar debruçou-se no parapeito e, sem querer, derrubou o vasinho de orquídeas da mãe, que foi estatelar-se na calçada. A manchete do jornal de 1º de março apontava: "Costureira morta por vaso em 29 de fevereiro"! Era ano bissexto e, sem calendário em casa, a moça não sabia ! Foi praga da cigana !
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Carlitto Torttoni nasceu com labirintite, andava meio inclinado e, quando parava precisava encostar-se em alguma parede para não cair. Virou arquiteto de casas tortas, com janelas que não fechavam e porta "em diagonal". De família nobre, foi convidado a fazer o monumento maior da cidade: legou ao Mundo a "Torre de Piza", que não dá para se morar mas é bem curiosa !
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John Louis perdeu a noção dos anos em que vivia na ilha deserta, barbudo, maltrapilho, insano. Um dia a maré lhe trouxe pequeno espelho e, com êle, seu irmão gêmeo, bem mais jovem. Com fios de palha amarrou o espelho num velho coqueiro... fez até a barba, a fogo, para ficar parecido com o mano. Conversavam muito, se divertiam abessa... numa noite o coqueiro caiu, o espelho quebrou e Louis John "se foi", partiu, morreu ! Sua vida agora é um tédio só !
"NATO" AZEVEDO (em 19-20/dez. 2018)
ADENDO AO TEXTO: o que chamam hoje de"nanoconto" Millôr Fernandes já fzia nos anos 50-60 e um certo Leon Eliachar produziu dezenas em seus livros 'Homem ao Quadrado" e "Homem ao Cubo", isso nos anos 70. Conheci a obra "CLÉCS" ("clics" inteligentes) do excelente trovador ENO TEODORO WANKE "reprisando" a novidade, por volta de 1985 e o genial "LECO" (João dos Santos, de Maringá/PR) aprimorando-a entre 1987 e 90. Em meu (futuro) livro "QUASE NADA...", pronto desde o ano 2000, criei algo semelhante, nos textos 'Tiro e Queda", "Queda e Tiro" e no "esquisito" "Cantos de um Conto... Só" !