LENDA DA CARROÇA

Questões jurídicas faziam necessário desenterrar a história.

Coube-lhe a obrigação de esclarecer.

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Todos diziam saber, só de ouvir contar.

Ninguém sabia, de ter visto, a verdade do ocorrido.

A história passada no boca-a-boca.

Tristeza demais para lembrar.

Carroça tombara com a senhora da fazenda e seus três meninos.

Sem explicação a ausência do Cocheiro na cena do Acidente.

Cocheiro conhecia cada buraco e pedra da estrada.

Não cabia razão tombar a carroça.

Desaparecera sem notícia.

Chamou os mais velhos a contarem seu saber.

Vilarejo de bico fechado.

Menos um.

Disse saber, de ouvir falar, que um Caminhante, atraído pelos latidos de Cachorro, viu a carroça tombada no fundo do Barranco.

Desceu e encontrou os mortos.

Não mexeu neles.

Caminhante, de passo acelerado, chamou auxílio no vilarejo.

Encontrou Serafim.

Serafim fazia as vezes de Bombeiro no vilarejo. Socorria a todos, no Vilarejo sem incêndios.

Pegou seus materiais de primeiros-socorros nunca usados e correram ao Barranco.

Beleléu, um bêbado errante das ruelas do Vilarejo, ouviu a conversa, guardou a garrafa e ofereceu ajudar.

Seguiu-os tropeçando pela estrada rumo ao Barranco. Seu Vira-Latas, foi atrás. Bombeiro desceu para lamentar não haver mais vida no acidente.

Subiu o Barranco.

Não viu mais o Caminhante.

Encontrou o Vira-latas cheirando o chão, desconfiado.

Beleléu apelava socorro. Tropeçara ao descer e acenava estatelado no Barranco.

Do Caminhante nunca mais se soube.

Vilarejo era detalhe no caminho.

Caminhantes passavam pelo Vilarejo, vindos de algum lugar e seguiam para não se sabia onde.

Tomavam um gole de água na fonte da praça.

Faziam o sinal da Cruz ao passar à frente da Capela.

Do Bombeiro, a última notícia sua mudança sem deixar local de nova moradia.

Jurou, de cruzar os dedos, que ouvira a história do próprio Serafim.

Bebeléu, chamado a depor, confundia os fatos. Ausente qualquer lógica a dividir a realidade das miragens alcoólicas.

Cochichos entre troca de olhares curiosos.

Animado pelo primeiro depoimento, para não se sentir menor, outro contou sua versão.

Vilarejo atônito!

Sabia, igualmente de ouvir falar, que um Tropeiro, atraído pelos latidos de um Cachorro no alto do Barranco, viu a Carroça tombada no fundo do Barranco.

Nem desceu. Seu cavalo estava arisco, como visse fantasmas.

Chicoteou apressado o cavalo, e chegou no vilarejo, noticiando o fato ao Padre, abrindo a porta da Capela, para tocar o Sino.

Vilarejo perdeu a hora.

Diante da gravidade noticiada, foram ligeiros para o Barranco.

Cidinha conhecia um pouco de Medicina, Parteira que era, vinha de fazer um nascimento, perguntou da pressa e acompanhou os dois.

Padre e Parteira desceram o Barranco confirmando as mortes.

Padre abençoou e orou um pouco.

Subiram lamentosos o Barranco.

Tropeiro sumira.

Vilarejo era detalhe no caminho.

Tropeiros passavam pelo Vilarejo, na rotina de trazer boiadas de algum lugar.

Paravam a Boiada a tomar água no riacho que cortava o Vilarejo.

Tomavam um gole de água na fonte da praça.

Faziam o sinal da Cruz ao passar à frente da Capela.

Tocavam a boiada para entregá-la na Vila Maior.

Padre fora transferido para uma cidade distante.

Parteira amanheceu sem vida, com sinais de infecção raivosa de mordida de Cachorro Louco, dias depois do Acidente.

Cochichos entre os olhares assustados.

Não foi bem assim!

Falou mais alto o Dono do Bar.

Vilarejo de boca aberta.

Disse saber, de ouvir falarem no balcão do Bar.

Cocheiro, ferido, a notar-se pelo sangue nas roupas, chegara trôpego ao Vilarejo antes do sol.

Assustado, gritava que um Cachorro uivando atirara-se em seu pescoço, jogando-o fora da Carroça e causando o tombamento.

Maioria do Vilarejo correu ao Barranco.

Voltaram aterrorizados com a tragédia.

Uns poucos cuidaram levar o Cocheiro aos cuidados da Parteira.

Parteira contava que o Cocheiro gania de dores.

Mordera sua mão quando passava a toalha molhada em seu rosto, para amenizar a febre que lhe acometeu, de súbito.

Morreu horas depois.

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Sentiu calafrios ao chegar no Barranco.

Pareceu-lhe conhecer o lugar.

Cheiro de Cachorro impregnados no ar.

À cabeça as estranhas imagens da noite do Pesadelo.

Pulara sobre a Carroça, atacando o Cocheiro.

Carroça rodando Barranco abaixo.

Não fazia sentido...

Lobisomens são lendas...

Uivou até o dia amanhecer.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 07/12/2018
Código do texto: T6520948
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