A medida da insanidade
- Guerra agora será coisa do passado - declarou o professor Palhares, ao me mostrar o que parecia ser uma grande bobina de Tesla cercada por equipamentos eletrônicos, no porão de sua casa suburbana.
- Então é essa a tal máquina? - Indaguei, mão no queixo.
- É o primeiro gerador de campo morfogenético da história! - Exclamou ele.
- E o que ela faz, exatamente?
- Coordena e organiza os campos morfogenéticos num padrão desejado pelo operador - explicou ele. - Não fará ninguém agir contra seus princípios, que fique bem claro, mas se houver uma tendência num grupo de indivíduos, no sentido de agir de determinada maneira, o gerador irá reforçá-la. Este processo é cumulativo, e mesmo sem a intervenção de outros geradores, acabará por atingir todos os membros de uma dada sociedade se lhe for dado tempo suficiente.
- Está me dizendo que esse gerador induz um determinado tipo de comportamento? - Questionei.
- Na verdade, ele amplifica uma propensão comportamental pré-existente. Criar essa propensão não é muito difícil: pode ser atingida pelo uso da mídia convencional... ou até mesmo por programas de mensagens instantâneas, tão em voga hoje em dia.
- Ou seja: alguém interessado em conquistar um país sem lançar mão de armas, poderia fazer com que a população do mesmo passasse a questionar sua própria capacidade de autogestão, e a aceitar passivamente o domínio de uma potência estrangeira?
Palhares acedeu.
- Criei o gerador de campo morfogenético baseando-me em princípios humanitários: evita-se a perda de vidas humanas, principalmente de civis inocentes, com a adoção de um dispositivo que reforça o conformismo e a obediência à autoridade. Isto também contribuirá para a redução dos índices de criminalidade, como pode imaginar.
- É realmente uma invenção sem igual, professor - parabenizei-o. - Mas imagino que existam pessoas imunes ou pelo menos mais resistentes à influência dos campos morfogenéticos...
- Decerto, mas certamente que são uma minoria - ponderou.
- Creio que pode me incluir entre estes, professor - retruquei, sacando uma pistola do meu coldre de ombro.
Após eliminar o professor Palhares, pus fogo em sua casa. O tal aparelho era perigoso demais para ser usado por gente simplória como ele; fazia tempo que o meu grupo havia desenvolvido sua própria rede de geradores, espalhados por todo o país.
Concorrência era tudo o que não queríamos.
- [23-11-2018]