Como é que Você Está?!

Tudo bem? Ele puxou a cadeira para que ela pudesse se sentar e ela agradeceu com uma risada e uma dessas piadas que rolam sobre as diferenças bestas entre gêneros, e os dois num belo entendimento continuaram rindo em consenso ao que importava entre eles, o interesse para o bom e o bem, e nada mais...

Acho diferente um terapeuta atender em um... café? Ela mexia nos volumosos cabelos pretos e ele acompanhava tudo com os olhos, analisando cada detalhe de seus gestos... Bem, aqui não é exatamente um café, café... Está mais para um desses Pubs sabe, tipo coisa de gringo, luz baixa, rock and roll e tudo mais... Acontece mais a noite, eles resolveram abrir de dia também, servem agora o café, e aqui estamos! Ela estava toda sorrisos, uma boca linda e vermelha de baton. Ele usava um óculos de aros finos e um bigodinho de "cafajeste" de filmes da pornochanchada brasileira. Era um sujeito engraçado, o terapeuta.

Bem, essa é a nossa primeira sessão. Eu costumo utilizar métodos variados e diferentes dependendo do caso. Quando você me ligou essa semana, pensei qual seria o melhor jeito de abordar uma pessoa com suas características iniciais para eu analisar e lhe devolver o melhor relatório particular e completo de possíveis soluções para, hmmm, digamos, aquilo que você considera problemas em sua vida. Esse homem, usando uma camisa fina e branca com linhas finas em tons azuis, sentava de frente para sua cliente com uma visão angular de toda a extensão da praia. O lugar se situava em cima de uma pequena inclinação colocando-o em posição privilegiada para ver parte da cidade de um lado e do outro com maior visão a imensidão calma do oceano. Ela voltou a mexer nos cabelos, e eles continuaram assim por mais alguns minutos, se conhecendo, ele apresentando alguns pontos incisivos de seu roteiro como terapeuta e ela curiosa em saber como aquilo se daria.

Primeiro ponto, você não pode espelhar e nem mesmo transferir qualquer sentimento ou emoção sua para mim. Eu estou aqui para te ouvir, e quem sabe aconselhar, apesar de eu não gostar muito de conselhos, nem para mim, ou o outro. Acredito no empirismo, sua experiência é só sua, e é por isso que é preciso compartilhar, e quem ouve, tem que ficar quieto, saber ouvir, sentir as emoções de quem fala. Isso confunde bastante a cabeça das pessoas, e com gentileza lhe digo, não sou um bom homem. Sou um ótimo doutor, mas tenho muito defeitos masculinos. Deram risadas enquanto a atendente chegava com um pequeno cardápio. Enfim, escolhi o café pois senti uma profunda empatia por você. Acreditei que se sentiria mais tranquila e confiante para me conhecer e abrir seu íntimo para uma pessoa que nunca viu, e só por que tem um diploma pendurado em uma parede sem vida e leitosa, naquela luz baixa que escurece e deixa o lugar com uma atmosfera meio, fúnebre, não significa nada, para mim, nada...

Algumas pessoas me procuram por que falam da necessidade da própria terapia em si. São pessoas insatisfeitas que buscam desesperadamente por ajuda, mas não sabem que a ajuda real vem de seu íntimo, e de forma muito humilde, creio que minha profissão serve mesmo é para isso, apenas para ser um canal, ou um catalisador, algo que a pessoa possa desopilar sobre qualquer coisa sem nenhum tipo de julgamento do outro lado, e por conta disso, e sabendo dos sigilos que a profissão nos reserva, sabemos de muitas coisas, hmm, diferentes, que as pessoas sentem, ou fazem, entende isso?...

Uma hora depois terminaram o café. Se cumprimentaram e ela seguiu o caminho contrário ao do terapeuta. Ela foi para casa, e sabia que teria uma semana no mínimo singular. Ele foi para uma praça que tinha bancos largos de madeira bem rústicos em cima de pedras e concretos, com uma linda vista para o canal que cortava parte da praia e era onde atracavam os barcos das pessoas ricas. Não pensou em nada em particular. Passou apenas alguns minutos para sentar um outro sujeito, com um olhar forte e profundo. Eles apertaram a mão e o terapeuta começou sua sessão...