O JOGO DOS DESESPERADOS

O JOGO DOS DESESPERADOS

Trajano Jardim

Uma nuvem negra engolfou o seu destino. Tudo parecia perdido, não albergava qualquer esperança em sua vida. Perdera o entusiasmo pelo viver, seria difícil prosseguir na sua senda.

Juntou seus parcos pertences, limpou a mesa de trabalho. Após vinte e cinco anos de labuta honesta e esmerada, fora colocado no olho da rua, sem qualquer explicação. Agora, teria de refazer a sua vida. Sua mulher, o havia abandonado há três anos, sob a alegação de que ele se dedicava mais ao trabalho do que a família. Seus dois filhos, já formados no terceiro grau, haviam se transferido para outra cidade e se comunicavam com ele apenas pela Web, fato este que, a cada ano, mais escasseava. Seus bens, acumulados em vinte e cinco anos de trabalho, como executivo de uma multinacional, daria para se manter por alguns anos, se levasse uma vida modesta e econômica.

Sentou pela última vez em sua cadeira e, em pensamentos, reviveu a cena da despedida.

- Senhor Trajano! Sou portador de más notícias- disse-lhe o diretor de recursos humanos – O senhor está sendo dispensado pela companhia. Será lhe pago todos os direitos previstos pela legislação vigente.

Sentia-se como laranjas que, apos sugadas são jogadas ao lixo.

Sabia que estava velho para o mercado de trabalho, pois com cinquenta e oito anos, não poderia recomeçar, teria de procurar um trabalho a altura de sua experiência.

Começou a caminhar pelas ruas da cidade.

Já era tarde, uma fria e chuvosa noite de abril.

Durante algum tempo nada se ouviu a não ser o monótono e incessante cair da chuva e o oscilante e nervoso murmúrio das árvores.

Em seu pensamento vinham cenas de sua existência, que o deixavam apreensivo e inseguro quanto ao seu futuro. Lembrara da época em que a empresa passara por uma crise financeira, trabalhou com denodo, por cinco anos, sem sequer receber uns únicos aumentos de salário, tinha de ajudar a empresa a se reerguer, não esmoreceu, persistiu, trabalhou dobrado, fazendo várias horas de prorrogação de jornada, tudo isso não foi considerado no momento da despedida.

Parou no final da alameda, quando viu um homem de preto, de meia idade, muito agradável, com belos olhos e soberbo perfil, tendo uma compleição invejável e aparentando possuir um maravilhoso equilíbrio emocional. Com gesto auspicioso se dirigiu a ele, dizendo:

- Senhor, está vendo aquela porta, ali - apontando para uma parede lisa.

- Não vejo nada – disse Trajano ao interpelador.

- Preste bem a atenção, pense que a está vendo e ela aparecerá.

Trajano concentrou-se no objetivo e o imaginou.

- Sim, estou vendo, uma porta em madeira de lei, parece porta de um templo.

- Entre nela e experimente o jogo da vida, recupere a sua felicidade, ganhe mais anos de vida e, quem sabe, talvez, uma nova vida. Este é o passe que o permitirá entrar - fez com o braço direito um sinal, repetiu-o, com o esquerdo e depois com ambos os braços.

Estes sinais, serão o seu passe, não os esqueça, sem ele não será permitida a sua entrada na casa.

Trajano dirigiu-se a porta e a sua frente fez os sinais que lhe foram confiados pelo homem de preto.

A grande porta abriu-se, ele adentrou na grande sala que antecedia o salão de jogos. Olhou pela parede e viu diversos quadros que simbolizavam riqueza e felicidade. No salão, viu varias pessoas que jogavam os mais variados tipos de jogos. Havia roleta, sete e meio, bacará, pôquer, dados e outros que não conhecia. Notou que as apostas eram feitas com fichas, fichas, de diversas cores e tamanhos. Olhou ao redor, apoiou o rosto numa das mãos e passou o dedo indicador por dentro do colarinho. Talvez fosse o sinal adequado para que alguma coisa acontecesse. Logo avistou o caixa, uma pequena portinhola em um cercado de aço, onde um homem distribuía as fichas. Trajano se aproximou e disse ao atendente.

- Quero apostar, quanto custam às fichas? – tirando a carteira com algum dinheiro.

- Guarde sua carteira, aqui não é usado dinheiro. Você aposta aquilo que deseja ganhar. Tempo de vida. Aqui lhe fornecemos fichas de um mês a cinco anos de sua vida. Este é o limite de aquisição, no entanto se necessitar de mais, poderá obter, após quinze minutos de reflexão.

- Dê-me fichas equivalentes há cinco anos.

Dirigiu-se à mesa da roleta, olhou o tabuleiro com 36 possibilidades, havia em seus olhos aquela expressão vaga e sem brilho que revelava haver mergulhado em profunda abstração. Algum tempo depois, pegou todas as fichas, que valiam cinco anos de sua vida, e as colocou no espaço onde estava escrito, paga o triplo do que apostar. A roleta girou, a bolinha foi lançada, perde o apostador. Tentou comprar mais ficha, mas o atendente negou, dizendo que deveria fazer uma reflexão de quinze minutos, antes de adquirir mais fichas, ou que retornasse na noite seguinte.

Saiu, marcando em sua lembrança a parede onde aparecera a porta de entrada do cassino da vida. Retornaria na noite seguinte, pois se perdesse toda a sua vida lhe seria auspicioso, já que ela, a vida, não representava mais nada para ele.

Chegou a casa, aquela que abrigara a sua família a mais de trinta anos. Por volta das vinte e quatro horas, cansado, mas mesmo assim, pôs-se a caminhar de um lado para outro. Nesse estado de meditação, acostou-se à cama e logo dormiu.

Ao acordar pela manhã, sentia-se com dores pelo corpo, espreguiçou-se e levantou para ir direto ao banheiro. Lá, olhou-se no espelho e notou que havia envelhecido no mínimo cinco anos, logo, lembrou da aposta, havia perdido cinco anos de sua vida.

A noite, com incertezas seguiu em direção ao lugar, onde havia encontrado a entrada do estranho cassino.

Era nove horas da noite, quando ele chegou ao local, inicialmente procurou o homem de preto, mas não o encontrou.

Sentia tremores na pele e, quando chegou diante da parede, sentiu que precisaria esperar alguns minutos antes de entrar.

Passados algum tempo, fixou seu olhar e imaginou a porta, como a tinha visto na noite anterior. Lá estava ela, aproximou-se e fez os sinais como havia feito anteriormente e logo a imensa porta abriu-se, franqueando-lhe o ingresso ao recinto.

Pegou mais cinco anos de fichas no caixa e se aproximou da mesa de pôquer, olhou atentamente os jogadores e as apostas que estavam realizando.

Esperou terminar a mão, pediu licença e sentou a mesa.

Lembrava-se dos tempos de guri, quando aprendera a jogar pôquer, com um alfaiate, alcunhado de Bidi, que morava vizinho a casa de seu pai.

As cartas foram distribuídas, pegou as cinco cartas e as examinou: Tinha um as, um rei, um oito, um cinco e um dois. Olhou para os demais jogadores, que começavam as apostas. O mão disse:

Quero três cartas, jogando três cartas que queria descartar. O homem calvo e sorridente pediu apenas uma carta, o velho com asma, quis duas cartas, o jovem de lenço no pescoço, pediu duas cartas. Trajano ficou com o as e o rei e descartou três cartas. Recebeu as três cartas, e as examinou, um rei um três e um sete, portanto tinha apenas uma dupla de reis.

O mão apostou um ano de sua vida.

Os dois seguintes devolveram as cartas e não apostaram. O rapaz de lenço no pescoço apostou: - O seu ano e mais um ano de minha vida.

Trajano pagou com fichas, de dois anos de sua vida, e pagou para ver.

Ganhou o rapaz de lenço no pescoço.

As cartas foram distribuídas, feito o descarte das desprezadas e a aposta inicial, que consistia em seis meses de vida. O mão, simplesmente disse que estava fora. O seguinte apostou um ano de sua vida. O moço de lenço no pescoço cobriu a apostas e apostou mais cinco anos de sua vida. Os demais caíram fora. Trajano que tinha um Full de ases cobriu as aposta e apostou mais quatro de sua vida.

O rapaz de lenço no pescoço pagou para ver. Trajano ganhou a mão. Havia ganhado oito anos de vida.

Pegou as fichas e as foi trocar no caixa:

O atendente pegou as ficha e disse: Oito anos, sendo, cinco de uma vida jovem e três de vida idosa. Como quer levar? Há uma oferta de meia vida jovem, o que equivale dizer que você pode levar dez anos de meia vida jovem.

- O que significa meia vida jovem?- perguntou Trajano.

- Não se sabe, até hoje ninguém levou este premio, ao menos que eu saiba.

- Vou querer, ai fico sabendo.

- Como faço para receber o prêmio?

- Receberá o seu prêmio quando chegar o momento. Apenas deve escolher se prefere o dia ou à noite.

- Prefiro a noite - respondeu com alguma insegurança.

Mas, quando irei receber o prêmio que ganhei?

- Como já disse no momento oportuno receberá o seu prêmio, com licença, pois tenho de atender os que querem apostar.

Trajano saiu do cassino, não havia entendido o que acontecera, ganhara um prêmio e não o tinha recebido, seria oportunamente, mas quando ocorreria essa oportunidade?

Chegou a casa passava da meia noite, deitou e dormiu, como nunca dantes havia dormido, não teve nenhum sonho, como os sonhos recorrentes, que costumava a ter, onde se via no emprego que havia perdido.

Foi ao banheiro, mirou-se no espelho, continuava a mesma figura, não havia envelhecido nem rejuvenescido.

O dia passara lento, lera os jornais, caminhou pela avenida, contemplando as folhas que caiam com a chegada do outono. Almoçou os restos que havia na geladeira, inquieto novamente saiu a caminhar, andou, andou e, por volta das dezessete horas, retornou a casa.

Preparava-se para tomar banho, quando o relógio cuco assinalou dezoito horas. Nesse momento, sentiu um zumbido nos ouvidos, tudo começou a girar e seus sentidos fugiram, deixando-o estendido no solo.

Alguns poucos minutos, os sentidos retornaram. Levantou-se e logo se olhou no espelho. Era inacreditável, ele estava jovem, como quando havia tido vinte e poucos anos.

Apalpou seu corpo, sem uma única ruga, seus cabelos brancos, haviam ficado pretos, estava jovem novamente, era inacreditável. Seu prêmio havia sido entregue. Ah! Não, não ousaria dizer o que aconteceu ninguém acreditaria nele e o tomariam por mentiroso.

Mas, assalta-o, nesse momento, incertezas e inseguranças. Como justificaria haver ficado jovem, e o desaparecimento do velho, poderia ser acusado de havê-lo matado. Se dissesse que havia apostado em uma casa imaginária e ganhado meia juventude, ninguém lhe daria crédito, passaria por lunático ou demente.

Nesse momento soa a campainha, atender ou não atender? Que dúvida, teria de atender, pois chamaria mais atenção não atendendo. Coloca o chambre e dirige-se à porta e, abre-a.

- Boa noite!

- Sou o vizinho da casa ao lado, quero lhe avisar que haverá reunião do bairro amanhã às quatro horas da tarde, tenha uma boa noite.

Retornou ao espalho, e confirmou que estava jovem – pensou:

- Devo estar sonhando, logo acordarei e tudo ficará normal.

Ria-se da vaidade que o levava a consultar o espelho com tanta freqüência, mas ele o consultava por não acreditar no que estava acontecendo — sua testa estava sem marcas, suas bochechas, seus olhos, toda a sua pessoa continuava tão imaculada quanto no seu vigésimo aniversário.

Tomou banho e foi para o quarto se vestir, vestiu-se e se olhou no espelho de corpo inteiro, não, não poderia vestir aquelas roupas tendo apenas vinte anos, ficara ridículo.

- Que ridículo estou, com estas roupas de valho. Tenho de comprar roupas novas. Foi à cozinha, abriu o refrigerador, havia leite e frutas e comidas congeladas. Tinha fome e fome de jovem. Pegou o telefone, ligou pedindo uma pizza e duas cervejas.

Após saciar a fome, ficou ali pensando, no que havia acontecido, tinha em sua lembrança as duas visitas que fizera ao cassino em que jogara a sua vida, realmente não fora um sonho, tudo era a mais pura e cristalina realidade. Viu claramente que o que tomara por vã imaginação era realidade.

Teria de planificar sua vida de jovem, quem sabe mudar-se para outra cidade, adquirir uma nova identidade, procurar um novo emprego, com a experiência que tinha e a juventude que ganhara, seria facial concorrer no mercado de trabalho.

Tornara-se um jovem senhor, perito conhecedor do mercado de ações e administração financeira.

Parou. Queria resistir àquela influência de temor que germinava dentro de si, pois ainda, não havia assimilado os últimos acontecimentos.

Quando se deitou, não conseguiu dormir. Podia sentir uma estranha pressão na atmosfera, uma densidade inexplicável, como ocorre algumas vezes nos momentos que precedem uma tempestade.

O que era aquilo? Um pressentimento? O pressentimento misterioso que se apodera dos sentidos dos homens quando eles vão presenciar o inexplicável? Talvez? Quem sabe?

Assistia à televisão e lá por vota de uma hora da madrugada, recostou-se no sofá e pegou no sono.

Às nove horas da manhã, do dia seguinte, o sol adentrando pela janela, o despertara. Espreguiçou-se demoradamente e levantou-se. Sua cabeça ainda não sintonizara o que estava acontecendo. Foi ao banheiro lavar-se, quando olhando pelo espelho, viu sua figura:

- Não, não pode ser, sou um velho novamente, era um jovem, ontem à noite antes de dormir. O que está acontecendo comigo?

Louco de pavor, enfim, conseguiu se arrastar para fora do banheiro, indo recostar-se no sofá, teria de analisar e chegar uma conclusão do que estava acontecendo.

Que me aconteceu? — pensou. Não era nenhum sonho.

Quando começou a sentir na cabeça uma ligeira dor entorpecida que nunca antes experimentara.

Tinha um olhar de quem olha fixo e sacode a cabeça.

O fato é que tinha medo, ou quem sabe, alguma espécie de respeito grande, de quem se vê menor frente coisas mais fortes e inexplicáveis.

Após haver passado o momento de torpor em frente ao inusitado, começou a raciocinar, com profundidade, a sua situação.

Recordava que quando o cuco assinalou dezoito horas, é que havia sofrido a transformação. Certamente o retorno a situação atual, teria ocorrido quando estava dormindo, por isso não podia precisar a que hora isso havia acontecido.

Recordava que preferira meia juventude, poderia inferir que se tratava de doze horas por dia velho e doze novo. Dessa forma a transformação ao estado de velho, teria ocorrido às seis horas da manhã.

Olhou pela janela e viu a perfeita tarde de abril: o brilhante céu azul da Capital Gaúcha atrás das árvores que deixavam cair suas folhas amarelas. Então, olhou o relógio, que assinalava dez e vinte da manhã. Resolveu preparar-se para sair, teria de fazer compra de novas roupas, roupas próprias para um jovem de vinte anos.

Adquiriu um enxoval, dizendo que daria um presente a seu filho, que estava de aniversário no dia seguinte. Após, vagou sem destino e objetivo, quando o claro azul do céu começou a diminuir anunciando que o dia estava indo embora; olhou o relógio que marcava dezessete e trinta, teria de chegar a casa antes das dezoito horas, pois não permitiria que a transformação ocorresse na rua, aos olhares curiosos dos transeuntes.

Mal adentrou na casa o cuco assinalou dezoito horas. Sentou e esperou os acontecimentos. Logo vieram os primeiros sinais da transformação, náuseas e uma espécie de vertigem e perdeu os sentidos, para logo retomá-los e constatar que estava jovem.

Vestiu-se adequadamente e saiu. Como era bom estar jovem novamente, cheio de entusiasmos, para viver intensamente, sem dores ou mal estares, que sempre é acometido os idosos. De tão contente, chegava a caminhar aos pulos, batendo com os calcanhares de vez em quando. A noite recém começara, teria mais de dez horas para farrear e aproveitar a vida.

Pegou um taxi, era um carro antigo, mas muito bem conservado. O motorista um português, obeso e sorridente, lhe disse:

- O jovem vai para uma noitada, estou certo? Se me permite perguntar?

- Claro amigo, leve-me ao mais concorrido dos restaurantes. Esta noite tenho muito a comemorar.

O taxi seguiu pelas ruas da capital, o jovem entusiasta, conversava com o taxista, como o conhecesse de longa data.

Ao chegarem ao restaurante, foi pagar a corrida, dando uma nota de vinte reais. O taxista pegou a nota, examinou-a, demoradamente e disse:

- Olha cá cidadão, estais a brincar comigo, esta nota é de brinquedo, quero receber a corrida em cruzeiros, este tal de real eu nunca vi antes, para mim não tem valor algum, onde tiraste este dinheiro?

Olhou para o lado perplexo, e viu os carros que estavam no estacionamento do restaurante, todos eram antigos e novos. Não sabia, de fato, o que estava acontecendo, estivera errado todo o tempo, ele não se tornara novo, apenas estava na época em que tinha vinte anos. Tirou o relógio do pulso e perguntou ao motorista:

- Este relógio paga a corrida?

- Com toda a certeza, meu jovem, mas não me peça troco, pois não tenho nenhum interesse no seu relógio.

- Não, apenas, como ele vale no mínimo dês vezes o preço da corrida. Peço que me pague o jantar, apenas isso.

- Tá bem, aqui tem cem cruzeiros, dá para tu comeres uma boa refeição.

Agradeceu o português a benevolência e adentrou no restaurante. Logo um garçom se aproximou e lhe ofereceu o cardápio, oportunidade em que aproveitou para perguntar:

- Por favor, o senhor pode me conseguir um calendário.

- Sim, senhor. Acho que temos! Um momento, por favor.

Logo ele veio com um calendário e deixou-o sobre a mesa.

Trajano, pegou o calendário e lá estava o que suspeitava, era o ano de 1972. Na folinha estava marcado o dia, 22 de abril. Agora tinha certeza, estava vivendo em dois tempos diferente. O inusitado lhe trouxera sérias preocupações, estava vivendo duas vidas, uma de dia e outra a noite e em épocas diferentes.

Terminou o jantar e logo voltou para casa, seu entusiasmo havia se esvaído, cedendo lugar a sérias e insofismáveis preocupações quanto ao seu futuro.

Chegou a casa, pegou uma cerveja e sentou no sofá, seus pensamentos estavam emaranhados, duvidas, incertezas o assolavam. Pensa:

- Se estou em um tempo à noite e em outro de dias, à noite sou jovem e um velho durante o dia. Isso, por um lado é bom, pois a noite há mais diversões, ao mesmo tempo é ruim, pois a noite não há quase atividades.

As horas passavam, já tomara duas cervejas, quando o sono veio e ele adormeceu no sofá.

Passava das oito horas quando o velho acordou, tinha em sua lembrança que havia sonhado um sonho estranho, que estava no ano de 1972 e que isso acontecera num restaurante. Olhou sobre a mesa de centro da sala, verificou que havia duas garrafas de cerveja vazia. Ficou surpreso e logo a realidade aflorou em seu cérebro. Tudo o que lhe parecera um sonho, realmente havia acontecido. O mistério da meia juventude persistia. Após pensar demoradamente sobre tudo o que lhe estava acontecendo, resolveu arquitetar um plano, compraria todos os jornais a noite e os levaria para tomar conhecimento no dia seguinte.

Nos jornais, procurou jogos que ocorressem à noite, apenas havia programação de corridas de cavalos no hipódromo. Única possibilidade de apostar e ganhar algum dinheiro da época. Procurou na internet, que era inexistente em 1972, nada encontrou que lhe fornecesse os resultados dos páreos do dia 29 de abril de 1972. Saiu e foi a uma biblioteca e pesquisou os jornais do dia 30 de abril de 1972. Lá estava os páreos e os resultados. Agora aflorava outro problema, como conseguiria dinheiro da época para fazer a primeira aposta. Isso somente poderia ser resolvido no tempo que vivia a noite. Foi a uma joalheria e adquiriu uma corrente de ouro, venderia a alguém no ano de 1972.

À noite, já no ano de 1972. Passava das dezenove horas quando ele entrou numa joalheria que estava fechando as portas. Pediu licença e disse que queria vender uma corrente de ouro puro, pois teria de fazer uma viagem. Tinha sido roubando, havendo perdido os documentos e todo o dinheiro. E, que apenas havia salvado a corrente de ouro, que os assaltantes não viram sob as roupas.

Quanto à avaliação, achou-a pífia, alegando que a corrente, no mínimo, valia o dobro do que lhe era oferecido. Com isso obteve um acréscimo, aceitar a oferta.

Pegou um taxi e foi logo para o hipódromo do cristal, lá as corridas noturnas ainda não haviam começado. Dirigiu-se ao guichê de apostas e apostou, apostou todo o dinheiro que tinha no cavalo que teria, conforme o jornal, vencido o primeiro páreo. Ele pagava um para 6,5. Assistiu a corrida e o cavalo realmente foi vencedor, multiplicou seu dinheiro mais de seis vezes. Assim, ganho no final da reunião, uma pequena fortuna de dinheiro da época, havia ganhado em todos os páreos.

Chegou a casa, por volta das duas horas da madrugada, trazendo grandes somas de dinheiro, o que lhe permitiria viver a noite intensamente finos restaurantes e casas de diversões.

Certa noite, Trajano, ou Trajaninho, como adotara o nome quando estava jovem, chegou a um restaurante. Sentou a mesa e enquanto esperava o jantar ser servido, ocupou-se em apreciar os demais habitues do lugar. Chamou um dos garçons e perguntou quem eram as pessoas ao redor. De todas as que lhe foram informadas, uma em especial lhe interessou, tratava-se de um banqueiro, que havia reservado uma mesa ao lado da sua. Um casal de meia idade, fazendo-se acompanhar de uma linda jovem, ocupou a mesa. Trajaninho encantou-se com a moça e passou a observá-la. Quando ela o olhou, ele fez um sinal de cumprimento, baixando a cabeça com parcimônia. A jovem sorriu e desviou o olhar. Não abrigava à menor duvida aquela era a mulher mais bela que havia encontrado em toda a sua vida.

De súbito, levantou e dirigiu-se a mesa onde estavam o casal com sua filha. Fazendo uma mesura disse:

- Boa-noite, permitam que me apresente, sou Trajano Jardim e estou sozinho naquela mesa, eu os convido para cearem comigo, sob as minhas expensas econômicas.

O pai da jovem levantou-se e disse:

- O senhor é que será o nosso convidado, queira tomar acento.

- Muito obrigado. Dirigindo-se a senhora, que lhe estendeu a mão, após beijá-la disse:

- Encantado senhora meus respeitos.

Dirigindo-se a moça, disse:

- Estou inebriado com tamanha beleza, meus olhos não me obedeceram e insistiram em contemplá-la.

O homem era um banqueiro, por isso discutiram finanças, após alguns minutos de conversa, o banqueiro lhe disse:

- Como pode um homem tão jovem entender tanto de finanças, o seu raro conhecimento o levaria a prosperar no ramo bancário.

- Tenho outras aspirações, pretendo investir meu dinheiro e meus conhecimentos em compras de ações.

- Nesse tocante lhe posso ser útil, tenho informações privilegiadas do mercado de ações- disse o banqueiro.

Não dispenso a sua ajuda, mas apenas posso utilizá-la fazendo meus investimentos através de seu banco.

A bela donzela, de quando em vez, trocava olhares lancinantes com Trajano, mas este continuava a conversar com seu pai entusiasmadamente.

Já era chegada a hora de se despedirem, quando Trajano, tomando a palavra disse:

- Senhor Josiano! Eu quero ter a ousadia de pedir para visitar a sua filha, se o permitir.

- Vocês se conhecem? Perguntou o pai expectante.

- Não, eu a vi hoje, pela primeira vez, mas tenho a certeza de que ela será a mulher de minha vida.

- Mas, a sua ousadia é desconcertante, como pode fazer tal pedido sem que antes tenha a aprovação da pretendida?

- Nossos olhares se falavam o tempo todo enquanto nos conversávamos, por isso, tenho a mais absoluta certeza que terei a sua aprovação.

- O que dizes minha filha? Queres ser visitada por este cavalheiro?

- Sim, meu pai, quero conhecê-lo melhor.

- Estejas na quarta feira em minha casa, aqui tem o endereço- alcançando-lhe um cartão de visita.

A família se afastou e Trajano permaneceu no restaurante, por algum tempo, pensando:

Quando notarem que um único homem ganhou todos os páreos, ficarão intrigados, por isso, não mais irei ao hipódromo, tenho de buscar novas alternativas para ganhar dinheiro.

No dia seguinte como velho e na época atual, Trajano buscou novas informações, desta feita sobre o mercado de ações, do ano de 1972.

No dia seguinte, passava pouco das dezenove horas, quando ele chegou à casa do banqueiro. Acionou a campainha, trazia escondidas, as costas, dois ramalhetes de flores. Aporta foi aberta pela dona da casa.

- Senhor Trajano! Que agradável surpresa.

- Uma boa noite senhora, aqui tem um ramalhete de flores para a senhora e outro para sua adorável filha.

- Quanta delicadeza, queira entrar, por favor.

- Com sua licença.

- Veio visitar minha filha ou falar de negócios com o meu marido?

- Digamos que ambas as coisas.

- Sente-se, por favor, que irei chamá-los.

Nisso se aproxima o dono da casa que diz:

- Senhor Trajano! Que bons ventos o trazem a minha modesta casa.

- Modesta é a minha figura senhor Josiano, sua casa é adorável.

- A que devo a sua visita?

- Como havia dito, trouxe algum numerário para ser aplicado em ações, e também uma lista das ações que o senhor deverá adquirir- estendeu a mão, alcançando uma pequena lista.

O Banqueiro, pego a lista e a examinou.

- Senhor Trajano, tem certeza que é nessas empresas que quer aplicar o seu dinheiro?

- Sim, com toda a certeza.

- É que duas das três, não estão em boa situação, poderá perder o seu dinheiro.

- Não se preocupe tenho informações de cocheira que elas reagirão nos próximos dias.

- O senhor é quem sabe.

- Ah! Aqui, está o dinheiro, é pouco, mas dá para iniciar as aplicações.

- Não seja modesto é uma soma apreciável.

Nisso se aproximam Dona Anita e sua filha Esmeralda. O varão levantou-se e aguardou as damas se aproximarem.

Pegou a mão da moça, que lhe havia alcançado, e a beijou, dizendo:

- A senhorita é encantadora.

Os namoros da época eram realizados com a moça na presença dos pais, ao menos no inicio, assim foi, até que, por volta das vinte e três horas, quando ele ia se despedir, foi interpelado pelo banqueiro

- O senhor pode comparecer no banco, amanhã pelas nove horas?

Trajano ficou com a pulsação a lhe bater nas carótidas, o que deveria responder, sabia de antemão que jamais poderia estar no banco naquele horário.

- Não, não poderei comparecer, acontece que tenho meu velho avo que é dependente de cuidados especiais, consigo sair apenas à noite, onde fica com ele uma enfermeira, durante os dias eu é que cuida dele.

- Que seja, farei o investimento e trago os documentos para o senhor assinar, quando voltar a minha casa. O resto da noite foi desperdiçado com amenidades, onde teve de inventar desculpas, em algumas fases da conversa. Despediu-se agradecendo a acolhida e a ajuda dispensada pelo banqueiro e saiu sem delongas. Quando caminhava pelas ruas, em pensamentos lamentava:

Que fora sugado e enganado por vinte e cinco anos, o que considerava muito tempo de sua vida, abandonado por sua família, e mergulhado naqueles misterioso e estranho mundo.

O frio que fazia era revigorante, o céu da noite claro de forma brilhante com estrelas e uma lua cheia resplandecente que emanava uma luz prateada. Resolveu procurar o cassino onde havia ganhado meia juventude, dúvidas pairavam em sua mente, será que o encontrarei no ano de 1972?

Ao chegar ao local, viu que a parede que havia no ano de 2010, não existia, no lugar havia uma grade de ferro com grandes pontas na forma de flechas.

Procurou por todos os lados o homem de preto, sem que o tivesse visto, firmou o pensamento, reproduzindo a porta como há tinha visto nas primeiras vezes em que lá estivera. A grade desapareceu, dando lugar a grande porta de madeira de lei. Aproximou-se e fez os sinais que havia gravado em sua memória e logo ela se abriu dando ingresso ao cassino da vida.

Tudo ali estava na mesma forma das vezes anteriores. Aproximou-se do guichê de vendas e adquiriu cinco anos de vida para apostar. Desta vez seria mais cuidadoso.

Foi à roleta e apostou cinco anos de meia juventude.

A roleta girou, a bolinha foi lançada e ele perdeu.

O dia passou como qualquer outro, apenas a expectativa era maior, pois, não sabia o que iria acontecer quando chegasse às dezoito horas.

O cuco assinava dezoito horas, sofreu um leve distúrbio e os sentidos se esvaíram. Quando acordou foi logo ao espelho estava jovem, mas parecia mais maduro, como se houvesse passado poucos anos, poderia ser apenas impressão sua.

Arrumou-se e foi logo procurar a casa do banqueiro. Lá chegando acionou a campainha, a porta logo foi aberta, pela dona da casa, que ao velo deu sinais de espanto e perplexidade.

- Senhor Trajano! O que houve com o senhor, esteve ausento por dois anos e meio.

Se comparado, não se saberia quem estava mais espantado, se a dona da casa ou o visitante.

- Tive alguns contratempos e tive de viajar com meu avo, para tratamento de sua saúde e, por isso, tive de me ausentar por esse período todo.

- E, como está seu avo, esta melhor?

- Sim, ele se recuperou, mas ainda expira cuidados especiais. E como está sua filha?

- Oh! Sabe como são os jovens, enamorou-se de outro rapaz.

- Entendo, posso falar com o seu marido?

- Entre e esteja a vontade que vou chamá-lo.

Sentou, olhou para os lados, tudo se encontrava como antes, não lhe pareceu que havia passado dois anos e meio. Logo veio o dono da casa.

- Senhor Trajano! Com tem passado, suas aplicações prosperaram, com o senhor disse, as empresas se recuperaram e você obteve grandes rendimentos.

- Senhor Josiano! Que satisfação reencontrá-lo, após dois anos e meio, como antecipei à sua senhora, estive ausente cuidando do meu avo, mas agora tudo, aprece estar resolvido.

A conversa foi animada, ao final houve uma prestação de contas, possuía Trajano uma pequena fortuna em ações das três companhias. Manteve as aplicações, pois não havia consultado os jornais do ano em que se encontrava velho.

Despediu-se do casal, deixou lembranças para a filha e dirigiu-se ao local onde havia a grade de ferro. Concentrou-se até aparecer à porta de madeira. Fez os sinais de passe e ela logo se abriu e ele adentrou no cassino.

Adquiriu fichas equivalentes a cinco anos de vida, e foi logo para a roleta fazer sua aposta. Desta feita, não seria afobado, apreciaria os demais jogadores, para estudar a sua jogada.

Notou que os jogadores, todos, sendo ele a única exceção, eram velhos, aparentando terem mais de sessenta anos.

As apostas que faziam, eram pífias, apostavam no máximo seis meses de vida. Quando ganhavam, ficavam eufóricos e comemoravam. Passou a examinar as opções de apostas, havia os seguintes títulos:

Ficar mais novos; ficar mais velho; meia juventude; juventude; anos mais de vida e vida eterna;

Avaliou as oportunidades de aposta e decidiu-se por apostar, cinco anos de sua vida, no título juventude.

A roleta girou, a esfera foi lançada e o apostador perde a aposta.

Nas suas contas, ficaria mais velho em dois anos e meio e avançaria mais dois anos como jovem.

Insatisfeito, procurou o carteado e se aproximou, lá estavam, quatro jovens jogando pôquer.

Olhou para todos os lados para ver se havia algum grupei, não havia ninguém comandando as jogadas. Esperou a mão terminar e solicitou ingresso no grupo. As cartas foram distribuídas. Apostou o mão; cinco anos de sua vida; os dois seguintes acompanharam, o quarto jogou as cartas e disse: - Estou fora.

Trajano, que tinha dois pares, apostou, colocando as fichas de cinco anos de sua vida, quando o mão disse:

- Para equivaler a nossas apostas terá de ser em dobro, pois estas apostando sua vida que é vida de um idoso, nós apostamos a nossa juventude.

- Tenho dez anos de meia juventude, aceitam a aposta? – Arguiu Trajano.

- Sim está aceita- disse o mão.

O jogo foi revelado, Trajano havia perdido dez anos de meia juventude.

Saiu desolado pensava:

-Um jogo em que não se sabe as regras, nem o resultado das apostas quando as ganhamos ou as perdemos, somente um desesperado como eu pode apostar a vida, pois a considero sem valor algum. Agora não tenho mais juventude, pois a perdi no jogo como a ganhei, resta-me apenas apostar a minha vida como idoso.

Saiu e foi para a roleta. Ficou ali, sorrateiro, como rato que teme o aparecimento do gato, havido em pegá-lo.

Seus pensamentos, não lhe davam trégua:

- Nas minhas contas, não tenho mais meia vida jovem, e estou com sessenta e seis anos, uma vez que perdi oito anos de minha vida atual. Se apostar mais cinco anos, e perder, ficarei com setenta e um anos.

Apostou mais cinco anos de sua vida, perdeu e foi para casa.

No dia seguinte, verificou que havia ficado um senhor caquético, não esperava tamanha transformação. Quando começa a jogar, estava com cinquenta e oito anos, agora estava com setenta a um, perdera treze anos de sua vida. Voltaria a apostar, acontecesse o que acontecesse, continuaria a apostar até o final, não lhe interessava viver como velho preferiria a morte a aquele estado de inanição.

De repente, num arremesso, como o suicida que se atira de um penhasco, se dirigiu a casa de jogos, atravessou rapidamente a porta e logo foi à compra de mais cinco anos de sua vida, a qual iria apostar. Tinha em seu semblante, a resignação de quem espera a morte com resignação. Seu desejo era de apostar até o final, quando não mais lhe disponibilizassem créditos para o jogo. Sabia de antemão que mais uma ou no máximo duas compras de fichas e tudo estaria terminado.

Suas derradeiras apostas teriam de levá-lo, no mínimo a uma vida de jovem, não o satisfaria ficar poucos anos mais moço, seria tudo ou nada, não sairia daquele misterioso e estranho mundo com vida.

As dores que sentia pelo corpo inteiro, que mal lhe permitiam caminhar, estas dificuldades eram suficientes para desencorajar a maioria dos homens de fazer qualquer tentativa para levar a cabo seu desejo. Mas, o seu não era nenhum desejo ordinário! Ele tinha determinação e havia de ganhar, não um simples jogos, mas sim, ávida que havia lhe sido roubada.

Ele tinha aprendido, de anos de experiência com homens que quando um alguém realmente DESEJA tão profundamente uma coisa, chegando ao ponto apostar sua vida em uma única rodada, é porque está seguro que irá ganhar.

Lembrou-se de uma frase que sempre era repetida por seu velho e saudoso pai, que sendo castelhano a dizia em espanhol:

Yo no creo en brujas, pero que las ay, las ay...

(Eu não creio em bruxas, mas que elas existem, existem).

Na banca de carteado havia três jovens e dois velhos que jogavam. Não lhe interessou, permanecendo ali a observar o jogo. Após três mãos um dos velhos deixou o jogo. Mais duas o outro levantou e despediu-se. Trajano pediu licença e sentou. Outro jovem se aproximou e solicitou ingresso e sentou-se a mesa:

Um dos que já estava jogando, dirigindo-se aos recém chegados, disse:

- A aposta inicial é de três anos de vida jovem- referindo-se a Trajano – O senhor apostará sempre o dobro, para equivaler a uma vida jovem. Aceitam as regras?

Ambos concordaram e as cartas foram distribuídas. Os jogadores observaram as cartas recebidas. O mão dispensou duas cartas, que foram substituídas. Dos outros três, um não quis carta alguma, sinal que havia recebido um jogo, pronto. O outro descartou três cartas. Trajano olhou suas cartas, havia recebido dois reis, um sete, um dez e uma dama.

Pensou, e como estava disposto a apostar tudo o que tinha, descartou três cartas. As três cartas que recebeu, foram, dois reis e um dois, portanto tinha um Four de reis, jogo que dificilmente seria suplantado. O mão apostou cinco anos de sua vida jovial além da aposta inicial. O seguinte pagou a aposta inicial e desistiu. O terceiro acompanhou a aposta do mão e apostou mais cinco anos de sua vida. O terceiro acompanhou as apostas. Trajano apostou os cinco mais cinco anos de sua vida o que equivaleria a vinte e quatro anos, se perdesse, pois os demais estavam apostando vidas de jovens. O mão pagou para ver, com mais cinco anos de sua vida, e disse, exibindo suas cartas: Full de damas. O terceiro jogador exibiu uma Sequência. O quarto exibiu um Flush. Trajano largou sobre a mesa um Four de reis, havia ganhado o jogo. Pegou as fichas apostadas, o equivalente a trinta e oito anos de juventude. Pegou as fichas e as foi trocar no caixa, que lhe disse:

- Trinta e oito anos de juventude, receberá seu prêmio no momento adequado.

Com grande dificuldade para se movimentar o velho Trajano, retorna a sua casa. Foi logo dormir, pois queria ver o resultado de seus ganhos.

No dia seguinte, acordou, pouco antes das seis horas. Sentiu uma dor cruel e convulsiva que parecia metamorfosear seu corpo. Uma súbita convulsão percorreu meus nervos e ossos, ele não sentia mais nada, tudo a sua volta tornou-se negro, escuro.

Quando retornou a consciência, tudo parecia calmo. Espreguiçou-se, como nunca fizera antes, foi logo ao banheiro, olhou-se no espelho e lá estava àquela figura jovem de quando tinha seus trinta e três anos. Pensou, com suas experiências anteriores, deveria ter recuado no tempo, por trinta e oito anos, portanto deveria estar no ano de 1972, quando contava trinta e três anos. O dia estava chuvoso, colocou uma gabardina e foi logo ver se através de um jornal confirmaria a data que havia estimado.

Olhou na banca de jornal, a data era 22 de abril de 1972.

Ficou intrigado, havia estado neste ano como um jovem de vinte anos, encontrara o banqueiro e namorara sua filha. Mas agora tinha seus trinta e três anos. De repente lembrou-se de algo de grande relevância, havia ingressa na empresa que o demitira após vinte e cinco anos de trabalho, exatamente no dia 2 de maio de 1972. Portanto, poderia repetir tudo de novo, só que desta feita, seria outro homem, com experiência de vinte e cinco anos de trabalho e com lembrança de tudo o que havia acontecido, poderia mudar todos os acontecimentos na empresa.

Ano de 2010.

- Senhor Presidente! Entendo que nossa empresa, deva substituir seu quadro de funcionários, há muito pessoal com idade avançada. Necessitamos de sangue novo. As universidades estão formando executivos novos, os chamados jovens talentos, que poderão elevar o nome da nossa organização.

- Senhor Mauricio!

Ontem à noite tive um sonho, em que eu havia sido despedido desta mesma empresa, na qual havia trabalhado, como contador, por vinte e cinco anos. Eu me senti uma laranja que apos sugada, tinha sido lançada ao lixo. Assim, fui parar em um estranho cassino, onde eu apostava a minha vida... Por isso, concordo em parte com a sua tese, mas devemos proceder às mudanças paulatinamente, a medidas, em que estes, a quem o senhor se referiu como com idade avançada, queiram de livre vontade deixar a nossa organização...

- Como queira senhor Trajano.

rocado
Enviado por rocado em 25/10/2018
Código do texto: T6485756
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