Neném Eletricista
O Franco era José Antônio de pia, mas tanto fazia. E o sobrenome bem lhe cabia. Filho do sapateiro Ducha, já era seminarista maior e de muito agrado do Bispo Christiano Portella de Araújo Penna, em cujo palácio episcopal residia, com graça e serventia.
Nas horas parcas de nossa recreação no seminário de São José, a pouco mais de uma quadra à frente, ele, sempre que podia, por lá aparecia para se - e nos - distrair. Além de dar uma mão na confecção do jornalzinho, linotipando, sobretudo a ponta dos dedos, dava-me um pé pra bater uma bolinha. Com a sua infalível canhotinha. E tá que vinha, uma ou outra anedotinha...
Duma feita contou-me que o aristocrático e sempre mui polido Bispo Christiano lhe solicitara a compra de um tubo da pasta dental, da marca - pronunciou-a espevitada e anglicamente - "Colgueite"... Solícito e obsequioso, Franco guardou o sorriso, que não era lá muito de dentifrício - e redarguiu a Sua Eminência:
- Se não tiver dessa marca, poderia ser "Kolaynos"...?
Noutra ocasião, menos formal, estávamos viajando, ele e eu, então de nossa Pitangui para Divinópolis, com uma parada em Pará de Minas - que naqueles meados dos anos sessenta ainda não tinha sua rodoviária, e o ponto de ônibus era numa convidativa pracinha em frente a um bar, que servia café numas xicrinhas branquinhas, pelando de quentes quando tiradas do tanquinho metálico de fervura, Franco, antes de queimar a língua, mirou uma parede espelhada do dito bar e diante da inscrição "Neném Eletricista", disparou:
- Não vejo pra quê anunciar, afinal se n´é nem eletricista...ainda dá essa pista...