Gato Preto na Sexta-Feira 13…
Ele estava atravessando a rua pela faixa de pedestres e aquela senhora da bochecha rechonchuda lhe deu um grito, “cuidado com o gato preto!” O sujeito levou um baita susto alcançando o outro lado da calçada junto com o bichano, que passou a andar do seu lado. Outras pessoas iam desviando dos dois sempre com um ou outro comentário maldoso a respeito da cor daquele animal. “Coitados” e olhei para o gato com um leve sorriso na boca e ele retribuiu. No princípio pensei que fosse uma brisa minha, é claro que o gato não sorriu de volta.
Dai passou um sujeito, aquele mesmo que usa camisa laranja e capacete de mesma cor para andar com sua bicicleta, girando o guidão soltou “cuidado com o gato preto!” e na sequência em que olhei para ele, ele olhando para o gato e uma lixeira enorme entrou em seu caminho. O camarada levou um tombo caindo de cara nos sacos de lixo. A bicicleta caiu amassada para um lado, e foi tudo tão bizarro que um casal que andava na contramão de mãos dadas, olhando para a cena próximos a mim, ela de salto alto e saia curta e ele de calça de linho e óculos de sol, estavam rindo as gargalhadas apontando para o cara da bicicleta, e acabaram trombando em um poste, ela caindo sentada e ele perdendo seu óculos que voou ao longe.
O gato preto miou para mim e continuou andando ao meu lado. Puxei um pedaço do meu sanduíche de peixe e joguei para ele, que pegou na boca e continuou a caminhada. Rimos novamente e dessa vez eu reparei bem. Eu estava chapado é claro, e estava numa larica danada, havia parado para pegar esse sanduíche de atum com cenoura e maionese e comendo pela calçada, esses atos vinham ocorrendo, e eu acreditando pela loucura que podia estar vendo coisas, ou sentindo, sei lá. Mas não, o gato preto riu comigo no mesmo tom. E eu gostei daquilo.
Andamos por mais algumas calçadas sempre com as admirações alheias, uns falando para eu tomar cuidado e na sequência um desastre surreal caia sobre essas pessoas, e eu numa boa, não sou nada supersticioso, nem religioso, não sou crente nem temente. No entanto acredito muito em energia, em fluir de boa, caminhar sossegado e fazer as coisas de um jeito bacana para mim e meu entorno. Parece que os gatos pretos também, e esse em particular, me tomou por um amigo, um companheiro, não fiquei pensando muito sobre, e fomos “juntos” por essa sexta-feira 13 adentro, contornando as pessoas, as situações, as ruas…