O papo dos impotentes

O líquido escuro descia pela garganta de Júlio,o deixando cada vez mais tonto.

Isto não seria um problema se ele não estivesse cheio de problemas.

Pessoas cheias de problemas,quando bêbadas,podem ficar violentas ou deprimidas.

E já que eu,o autor deste texto,não curto violência,Júlio pertencerá ao segundo grupo.

__Garçom!Mais uma black Princess aqui para o seu amigo!__pediu,apontando o indicador para o copo quase vazio.

O garçom,que equilibrava na mão direita uma bandeja cheia de tulipas e taças de vinho,assentiu com a cabeça e foi atender as outras mesas da casa noturna.

__Rapaz!Há quanto tempo!!__bradou um careca gordinho que atravessava o salão.

__Mar...Marce..__balbuciou Júlio,expressão abobalhada,lutando contra o álcool no sangue.

__Marcelino!Marcelino!__completou o pequeno obeso,ao abrir os braços e quase deixar cair o copo de vodca da mão esquerda.

__Sim!Marcelino do colégio Pentágono!__o bebum matou a charada__Dá um abraço aqui!

Os dois se abraçaram calorosamente;depois de puxar uma cadeira e sentar,o gordinho deu o pontapé inicial na troca de informações:

__Eu me casei e me separei duas vezes!E você?__os olhos dele estavam arregalados.A vodca não perdoava.

__Estou casado__Júlio olhou para sua tulipa como se ela fosse uma bola de cristal estilizada__Até quando não sei...

__Por quê?Acabou a paixão?

__Não...Acabou a ereção..__a parte final da sentença foi quase inaudível,a não ser para o super homem.

__Acabou a relação?Mas por quê?__o carequinha inclinava a cabeça(e a careca)na direção de Júlio,tentando ouvir sua voz em meio a música alta.

__Chega mais perto__Júlio puxou o gordinho pela manga da camisa__Eu vou te confessar uma coisa...

__Sim;pode falar.__os olhos do baixinho se arregalaram ao máximo

__Eu ando com um pequeno problema lá embaixo__e apontou o indicador na direção do chão.

__Está com varizes?__arriscou Marcelino.

__Estou brocha!Brocha!__explodiu Júlio,num tom que possibilitou a todos em volta ouvirem.

__Sua bebida,senhor.__era o garçom,que chegava bem na hora da confissão e também virava testemunha.

__Obrigado__balbuciou Júlio.Ao pegar a tulipa,manteve os olhos fixos nela,evitando os olhares alheios.

O gordinho tomou um gole generoso da vodca,empertigou-se na cadeira,passou a mão direita pelo queixo,acariciando os pêlos do seu cavanhaque ralo,e falou:

__Eu já tive esse problema,há alguns anos.

__Já?!__os olhos de Júlio adquiriram um brilho repentino__E você conseguiu resolver?

__Sim.

__Como?

__Bem;eu estava desempregado e meu segundo casamento ia de mal a pior...__tomou mais um gole da vodca__Quando consegui outro emprego e me separei,minha potência voltou na hora!

__Você não foi ao médico?

__Não!Não gosto de médicos!Principalmente nessas situações__fez uma expressão de desdém.

__Não estou desempregado;e meu casamento não é tão ruim...

__Se conselho fosse bom,a gente vendia;então eu vou lhe dar alguns.

__Estou aceitando qualquer ajuda...

__Você deve procurar transar com sua esposa de manhã cedinho.E não vá ao banheiro antes!

__Mas eu geralmente acordo com uma baita vontade de ..

__Urinar!__interrompeu Marcelino__Eu também.E é justamente essa pressão que pode te dar suporte para levantar o garoto,entende?

__Nunca pensei nisso...

__Quem me deu a dica foi um tio meu.

__Ele era casado?

__Não.Ele morava ao lado de uma termas.Quando queria afogar o ganso,batia lá de manhã bem cedo.

__Esses lugares não abrem cedo..__duvidou Júlio.

__O tio era freguês antigo;uma das "primas" o atendia no horário especial..__deu uma risadinha marota,do jeito que só os gordos sabem dar.

__Eu acho que vou é tomar um desses comprimidos...__Júlio era o desânimo em pessoa.

Marcelino torceu o nariz e iniciou mais um relato:

__Um outro tio meu,de Cuiabá,também estava...__fez um movimento com o indicador para baixo__Depois de diversas consultas com vários médicos,ele chegou em um que lhe passou uma injeção que deveria ser tomada a cada quinze dias.Segundo o doutor,na terceira dose ele começaria a sentir os efeitos desejados.

__E ele tomou a injeção?

__Tomou.Só que do jeito dele.

__Não entendi.

__Ele saiu do consultório do médico e foi direto na farmácia.Lá,chamou o farmacêutico,que era seu amigo,e o convenceu a lhe aplicar três doses de uma vez.

__E aí?

__E aí que o tio já saiu de lá com o instrumento envernizado.Chegou em casa,foi para o quarto com a esposa e mandou bala!

__Que bom!Final feliz!

__Não acabou ainda.Depois do ato em si,o "pingulin" não amolecia.Ficou assim por dois dias!Titio teve de ser operado as pressas.Acabou colocando uma prótese..Agora chegamos de fato ao final feliz.Cuidado com esses remédios!

__Mais algum conselho?__Júlio soltou um arroto de lúpulo e cevada.

__Procure relaxar,amigo!Não leve e vida tão a sério!Você não vai sair vivo dela mesmo,não é?

__È verdade..__Júlio bocejou demoradamente.

__Tenho que ir agora___falou Marcelino__Marquei com uma "criatura" aqui em frente a boate.Se cuida,amigo!

Depois de um abraço sincero,Marcelino,que não era pão e vinho,foi embora.

Júlio sentiu o celular vibrar no bolso da calça.Era a esposa o chamando de volta para a casa.Prometeu que iria naquele momento.

No banco traseiro do táxi,ia checando as mensagens do face.A certa altura,a propaganda de uma clínica especializada em disfunção erétil apareceu na tela do celular."Será que eles realmente podem ouvir a conversa dos internautas?"pensou.

Ao chegar em casa,tomou um café e um banho,ambos quentes.

Deu um beijo na esposa e foi dormir.

No dia seguinte,bem cedo,usaria a técnica da pressão urinária.

Boa sorte,Júlio!