O Lago

Uma vez...
Eu me perdi de mim.

No céu de minh’a alma
Não me encontrei
Nem nas minhas profundezas

Procurei por mim
No avesso do meu ser
Naquele lado que ninguém vê
Só encontrei
Nada do que sou

Até que me vi
Na ponta de um lápis
Ao som de notas musicais
Desenhando um lago

Existe um lago. Um lago profundo e misterioso. Sua superfície é límpida e clara...e o fundo, profundo, de um escuro de noite sem lua.
À luz do sol, parece um lago comum, como os outros lagos, mas quando é noite de lua cheia, os raios da lua fazem o lago ficar transparente e assim, é possível enxergar até às suas profundezas.
O lago atrai e causa medo: atrai porque é lindo e misterioso e causa medo porque é imprevisível como tudo o que se desconhece.

Para quem navega em suas águas em noite de lua cheia, o lago reflete algumas imagens dos seus segredos. Para aqueles que têm coragem de nadar, o lago mostra um pouquinho mais. Agora...para aqueles que mergulham, o lago é muito generoso e mostra os segredos a serem desvendados.

Às vezes os segredos são encantos divinos que cativam e mostram as belezas da natureza, as forças que ordenam este mundo, mostram os dons e as virtudes.

Às vezes são sentimentos que precisam ser transformados. Nem sempre é prazeroso, algumas vezes dói muito, mas depois da dor, a sabedoria daquele segredo se transforma em força. A sabedoria adquirida torna-se um tesouro guardado no coração.

A cada vez que a gente tem coragem de mergulhar no lago em noite de lua cheia, ele traz um presente. A cada vez que um segredo se transforma em tesouro, o lago fica mais azul e transparente. Até o dia que todos os segredos se transformarão em tesouros guardados no coração e o lago ficará todo azul e transparente, como o céu.

O lago é cercado por montanhas, no alto das cordilheiras. Em sua margem, tem uma árvore, uma árvore ancestral, enorme, frondosa e linda.

Sento em sua sombra, encostada em seu tronco forte, observo o lago, as montanhas, o ar de paz e harmonia deste lugar. Observo a cor do lago. A cada vez que venho aqui, ele está mais claro e azul. Este lugar me abastece, é uma ilha de boas energias, é uma ilha do mundo. Eu a chamo de Ilha do Amor.

Avista-se o mar azul, em todas as direções. As montanhas escondem o lago, onde a luz de Deus é clara, direta. Acima dele, o céu azul.

Só se chega a este lago com o coração. Não existem estradas. Está em alto mar, invisível aos olhos, inacessível aos pés.

Só aparece aos olhos do coração. Esta é a chave que abre os segredos do lago: o coração.

Este lugar tem um Guardião
É um anjo de amor, um anjo de luz,
É um velhinho de uma luz branca e transparente
Tem cabelos brancos e olhos d’água
O seu olhar é puro amor
Ele tem muitos nomes, mas eu o chamo de AZ
Todas as letras do Universo. Tudo o que existe.

AZ está no ar que eu respiro, no sol, no céu, nas estrelas, na luz do luar. Ele aparece quando a gente abre o coração, quando a gente se coloca no lugar de amar, quando estamos muito carentes de amor.

Quando nada no mundo abastece, quando estou muito machucada, Ele vem e me sinto inteira de novo. Em sua presença, tudo é amor.

Nesta ilha tem uma floresta virgem e nesta floresta, uma clareira. É um portal para o céu. AZ gosta de ficar ali. Este lugar tem muitos pássaros, flores e beija-flores. Sempre que preciso, eu chamo. Eu o chamo com um canto, um canto especial como quem chama um pássaro de rara beleza.

Lembrei que um dia pedi a Deus para me conhecer. Marquei um compromisso com Ele de me conhecer inteira, profundamente. Desde este dia, Deus vem me proporcionando experiências fortes, experiências que me fazem crescer e me conhecer. Então Deus me presenteou com esta ilha, este lago e conheci AZ.

Este lago existe há muito tempo. Desde o princípio dos tempos. Havia me esquecido dele. Por isto me sentia tão perdida. A vez anterior que mergulhei nele conheci os limites deste mundo, a renúncia, a conformação.

Descobri que tenho uma missão neste mundo.

Este segredo foi desvendado e se transformou em tesouro no meu coração. Este ciclo terminou. Acho que é por isto que o lago apareceu de novo. Preciso mergulhar nele para me encontrar, encontrar um novo segredo a ser desvendado e começar um novo ciclo.

O espaço entre dois ciclos é um espaço vazio, o nada, onde a gente pensa que tudo acabou, que nada faz sentido, que a vida perdeu a graça. Mas não é exatamente assim.

É o momento de respirar, concentrar coragem, reunir energias e mergulhar em suas águas em busca do novo caminho, do novo segredo, para que a vida volte a ter cor, música e encanto.

Quando você se sentir sem ânimo de viver, examine e veja que a vida está proporcionando a você um espaço para recomeçar, para encontrar um novo caminho.

Assim como a primavera que renova tudo na natureza e reinicia um novo ciclo.

15/10/2008 – Primavera, dia de céu azul e noite de lua cheia.




 

Betania Bástos
Enviado por Betania Bástos em 19/05/2018
Reeditado em 18/07/2024
Código do texto: T6340638
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