O olho de Lidoneta

Era único. Seu parceiro, sério, havia sido vazado, por inteiro, por um desafortunado golpe de cabeça de chave, e das antigas. E com a visão que lhe restou, Lidoneta foi dar aulas no Grupo Escolar Zico Barbosa, no antigo povoado, e hoje cidade de seus quase três mil habitantes, de Onça de Pitangui.

Sempre vigilante e severo, na segunda década do século passado, orientou a menina Isabel, a Tibebé, a tomar gosto pelas lides escolares. Tibebé, que faleceu em junho de 1979, diferentemente de suas irmãs e de seu irmão Antônio, avançou um pouco mais no aprendizado primário. Guardava consigo cadernos ilustrados e até mapas, de um tempo remoto, mas produtivo. E embora seu destino estivesse ligado aos teares da fábrica de tecidos no Brumado, vizinho povoado, Tibebé melhor aplicou-se na contabilidade, de que cuidava na domesticidade da irmandade, com um rigor cartesiano.

Sem chegar ao desembaraço aritmético de papai, irmão caçula, que entendia até de juros e porcentagens, Tibebé não descurava das quatro operações que o olho vigilante de Dona Lidoneta lhe propiciara.

Mas que é de que ela podia nos fazer crer nas virtudes de sua mestra...? Bastava o seu nome enunciar para cairmos na chacota das rimas infidáveis e por vezes impalatáveis...

Cambada de criançada do capeta...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 11/04/2018
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