A Garota Amaldiçoada
Em uma noite fria de Novembro nasceu uma criança iluminada, em uma pequena cidade do nordeste da terra Grande do Sul. Seu brilho e alegria exalavam tão fortemente, que chamará a atenção das Musas de Apolo. As divindades desceram do olimpo apenas para observar a criança, que trazia alegria e conforto para qualquer um que chegasse perto. De imediato ao se aproximarem, as Musas sentiram-se apaixonadas pela criança e como forma de agradecer ao pequeno ser aquele momento de felicidade, cada uma delas lhe deu um dom.
A primeira foi Clio, que se aproximou da criança tocando seu nariz.
-Serás conhecedora e adoradora da História, assim terás conhecimento para te defender de qualquer um.
A criança deu uma forte gargalhada ao ter seu nariz tocado. O sorriso, chamou a atenção de todos no quarto, médicos, enfermeiros e os pais da criança, mas eles jamais entenderia o que se passava, pois não podiam enxergar o sobrenatural que acontecia na sala.
A segunda a se aproximar foi Calíope.
-Terás o dom de fazer as mais épicas Poesias.
Assim seguiu-se, uma após a outra dado-lhe dons que acreditavam beneficiar a criança.
Terpsícore lhe deu o dom da dança, Erato da poesia erótica, Polínia da poesia sacra, Urânia da astronomia e Tália da comédia. Todas se sentiram bastante satisfeitas, sabia que seria uma prodigiosa com tantos dons e o mundo com certeza seria seu. Com todas as graças dadas e acabadas, as musas decidiram ir embora, mas foram surpreendidas. As luzes do hospital desapareceram com um forte apagão. Voltaram depois de segundos, mas com algumas lâmpadas ainda piscantes. Agora o ar era mais frio que o comum e a frente delas estava parado Hades, observando a recém nascida mortal, com um aspecto nada agradável.
-Vocês encheram essa pequena criatura mortal de dons? – Questionou-as o Deus do submundo com voracidade.
-É uma adorável e inocente criança. –Respondeu Clio.
-Sabem o quão perigoso é dar tantos dons a um único mortal? Querem transformá-la numa divindade?
As musas não falaram mais nada, acuadas estavam e lá ficaram. Hades se aproximou novamente do berço onde a criança estava.
-Pequeno ser mortal, a solidão será sua companheira mais próxima, dominará seus pensamentos e por mais divina que te torne, não encontrará quem queira ficar ao teu lado, pois sua grandeza será sua derrota e seus dons sua maldição.
As palavras ditas por Hades deixaram as Musas aterrorizadas. Como era possível tanta maldade para com um ser tão indefeso? Ele olhou mais uma vez para ela e desapareceu como fumaça no ar. Agora elas não tinham mais o que fazer, a não ser observar o ser iluminado que as fizeram tão bem, ser fadada a viver só. Ao se despedirem da criança ouviram uma voz familiar, era Melpômene, a Musa que se atrasou.
-Vocês estão aqui. – disse ela muito contente.
Após contarem-lhe tudo que aconteceu, Melpômene que era responsável pela Tragédia resolveu interve.
-Oh doce mortal, não posso desfazer o que um Deus faz, mas posso lhe ajudar. Te darei como maior habilidade, o dom de Transcrever cada momento de tristeza, tragédia e solidão da sua vida e da humanidade, encantado todos aqueles que os apreciarem. Assim serás uma bela forma de tirar um pouco desse fardo da suas costas.-Depois de resolvido todas as Musas foram embora.
Alguns anos depois a criança crescerá e para os que acham que ela teria uma vida perfeita e gloriosa se enganaram. Apesar de ter tantos dons, a maldição que Hades jogou sobre ela, sempre pesou mais que tudo. Aos dez anos, criou sua primeira poesia, mas não disse para ninguém pois achava que não seria compreendida. Aos Onze começou a fazer Balé, mas parou pois se sentia solitária. Aos quatorze anos usou seu Lirismo para escrever lindas músicas, mas sentia que ninguém a ouvia. Aos quinze anos, ensinava sua professora de história sobre História, o que fazia com que todos achassem-a metida e arrogante. Aos dezesseis observava as estrelas e escrevia sobre Deuses, pedindo que ajudassem a acabar com a solidão, aos dezessete decidiou rir de sua própria desgraça como forma de aguentar o peso da vida, então a partir daí todos os dias acordava com um brilhante sorriso no rosto, agradando assim a todos que estavam em sua volta, mas por dentro sentia que jamais encontraria alguém que lhe compreendesse.