Era noite de natal
Era noite de natal, poucos carros passavam na rua. A vizinhança estava silenciosa, ninguém passava natal naquele submundo. Ela estava sozinha em casa. Seu pai morava em outro estado, tinha outra família. Sua mãe e seu irmão resolveram passar a ceia com o seu padrasto. Odiava aquele babaca, tinha vontade de matá-lo. Na verdade, não teria coragem de fazer isso, ela não fazia mal a ninguém, possuía boa índole. Deitada em sua cama, pensava sobre a sua situação. Sentia-se sozinha, desamparada, marginalizada. Silenciosamente, fazia pedidos nessa data sagrada. Desejava ganhar dinheiro e ser feliz. Não era uma pessoa infeliz, mas sentia que faltava algo em sua vida, não sabia explicar o que era. Sentia falta de cultura em sua vida também. Mal sabia que a história de sua vida era a mais pura obra de arte. Não era um best-seller, era um clássico da literatura reencarnado em pleno século xxi. Por algum motivo, ele ainda pensava nela. Ele ainda a desejava. Mais do que um amante, ele gostaria de cuidar da garota. Possuía afeição por ela. Apesar de terem idades parecidas, ele queria ser sua figura paterna. Talvez, Freud pudesse explicar o que se passava em sua mente. Ele sabia onde encontrá-la, mas não poderia ir ao seu encontro. Estava perdido, confuso, sem orientação. Não entendia os sinais, não entendia a sua intuição. Entretanto, sabia que finalmente encontrava-se no caminho certo.