O mancebo
Ele chegou em casa no meio de uma ensolarada tarde, pelas mãos, então calosas, mas sempre firmes, de mamãe, que tinha que dividir seu emprego do manejo dos teares à catação de feijão, passando também pela costura de nossas peças de vestuário, com exceção das calças e calções que eram atribuição de papai.
Mas vamos ao chegante: era o novo mancebo, constituído de uma base circular de madeira e duas haste que culminavam prendendo o aro, igualmente em madeira onde deveria assentar-se o coador, de pano, para passar o nosso café. E era bonito por novo, pelo porte elegante e pelo acabamento na lisura da madeira, lixadinha de dar gosto.
E foi no quintal, pouco pra baixo da cozinha, à sombra de um já pujante jovem abacateiro, que se fez a inauguração do novo prestador de serviço. E à primeira coada do negro líquido, as sensíveis abelhas, esquecendo a floração do limoeiro vizinho, flecharam na borda do coador para a avant-première que, sob a intimidação do ferrão e nossa admiração a elas pertencia. Afinal, doce era o néctar que dali escorria.
Ausente da alegria foi o mancebinho antigo, que, raquitinho, nem no banco de reservas ficou para testemunhar aquele momento glorioso. E se alguma lágrima verteu, no canto em que se meteu, sinal dela não nos deu.