SENTINDO NA PRÓPRIA PELE

De competência duvidosa o Dr. Tino, clínico geral recém formado ( aquele que entende pouco de tudo e tudo de nada) aportou na cidadezinha lá pelos idos dos anos 60.
Caçula de uma família tradicional curitibana, muito benquista na sociedade das araucárias foi apresentado a alguns empresários locais.
Adotaram-no.
Três ou mais empresas firmaram contrato mensal com o adolescente recém formado, digamos, por influência de amigos comuns.
Médico do trabalho, período de 6 horas diárias (bem remuneradas)
Infelizmente, como gerente-administrativo de uma das empresas fui responsável pela auditoria e controladoria de suas atividades.
Um horror!
Relatórios de atendimentos, revoltantes reclamações de funcionários, um caos...
Acreditar na palavra do Dr., Tino ou dos colaboradores? Ele não admitia equívocos...
As queixas eram inúmeras, uma  auditoria depois de algum tempo se instalou.
Das visitas noturnas de atendimento ou nas residências constava em média 16 por mês.
Na realidade a comprovação: NENHUMA...
Solicitações para exames com prognósticos de doenças graves com exames laboratoriais (em seu laboratório fajuto) eram uma constante.
Sua planilha de atendimentos era uma farsa, claro, sempre ao seu favorecimento.
Um belo faturamento exibia o DOCTOR e sua clínica virtual.
Alguns equipamentos novos que por sua exigência foram adquiridos pela empresa ele os levou para seu consultório particular, substituindo-os pelos ineficientes e obsoletos que lhe pertencia.
Em relatório confidencial relatei à diretoria estas irregularidades.
Em vão.
Jogaram-no na gaveta e tudo continuou como antes, na terra de Abrantes (uma zona).
Senti-me decepcionado, inerte diante dos fatos, um simples funcionário a contestar um DR...
Certo dia o diretor financeiro com fortes dores no abdome foi consultar:
- Sinto muitas dores, apontou para o local dolorido...
- _ O Sr. precisa deixar de fumar, disse enfático o DR.Tino.
- Mas doutor, eu  nunca fumei em minha vida!
- Ah!...refutou  o “profissional” não se dando por vencido: deixa então de consumir chocolate.
- Não entendo Dr. não consumo doce algum, pois meu diabetes me impede.
- Ah!... deve ser isso...
Abriu a gaveta, retirou o talão do receituário e passou uma receita: pastilhas de magnésia para gastrite.
Na maior cara-de-pau estendeu a mão dizendo:  passar bem!
A gota d’água não tardava.
Dias depois o gerente industrial levou sua jovem esposa à consultar:
- Pois não, atendeu-os com o costumeiro sorriso amarelado e má vontade.
- Dr., creio que ela está grávida de nosso primeiro filho.
- Vejamos disse o Dr. Tino, encaminhando-a para o exame de ultra-sonografia.
No outro dia, com o exame em mãos o casal compareceu ao consultório.
- Dr Tino, com os óculos pendurados na ponta do narigão observou o relatório resultante do exame.
- Adir, o funcionário apreensivo indagou? – de quantos meses ela está? DR????
Com ares de sabedoria ( o discípulo de Hipócrates) sentenciou:
- ela  não está grávida, está  sim com um cisto enorme e faz-se urgente uma intervenção cirúrgica.
Vou encaminhá-la para a minha clínica, fiquem tranqüilos!!!
Adir e a esposa saíram arrasados do consultório.
Tanta expectativa, esperanças do primogênito e agora isso...
Não se deram por vencidos.
Procuraram outro médico para confirmar o diagnóstico.
Seis meses após adentraram `a sala do Dr. Tino e anunciaram:
-  “ Viemos lhe comunicar que ontem o cisto nasceu”.
Irá ser batizado na próxima semana com o nome de CISTINO.
Até um dia Dr. Tino!
 .
OBS. O Fato é verídico, preservados, porém os nomes verdadeiros dos personagens

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