Carta de um suicida
Prezado mundo...
Sim, eu me matei! E sei que ninguém chorou ... e se choraram não foi do jeito que eu queria que chorassem. Acho que nesse exato momento se alguém está chorando deve estar vertendo lágrimas de pedra. Cascatas de pedregulhos caem dos olhos de vocês.
Matei-me porque não aguentava mais sentir-me como uma mentira ambulante. Morri porque acredito que a pior coisa que alguém pode sentir é aquela de ser atravessada por uma sensação de tempo perdido.
A forma que eu escolhi para morrer não importa muito. Poderia ser jogando-me do alto de um prédio ou tomando cento e vinte oito comprimidos de um medicamento qualquer, mas prefiro essa, pois sei que será discreta e não incomodará ninguém.
Não se perguntem porque eu fiz isso. Acredito que é por estar sentindo-me vazio, uma pessoa que vive com uma máscara e que se distanciou de si mesmo. Talvez vocês se perguntem porque eu fiz isso. Eu lhes repondo: ora, somos incompletos, não somos Deuses.
Não pensem que foi um ato impensado, produto de alguma patologia. Não, não foi nada disso. Foi um ato lógico, digno de mim, pensado e pesado em uma balança racional. Morro porque quero ser igual a vocês. Não nego isso. Queria ser meio louco, sofrer por coisas banais, curtir uma música pensando em alguém, sair sem rumo por aí, rir das menores bobagens. Eu nunca consegui isso. Acho que fui um tolo a vida inteira, mas agora é tarde, pois eu já estou morto.
Eu me sentia como uma pedra em uma estrada deserta. Não haverá ninguém para chutar aquela pedra. Eu gostaria de ser chutado, pois assim me sentiria útil para alguma coisa.
Vocês que estão vivos sempre falavam que a luz estava no fim do túnel. Eu não via nem o túnel quanto mais a luz. Gostaria de escrever mais, de dizer coisas que talvez fossem importantes, mas de que adiantaria? Agora é tarde para alguma coisa pois eu desci aos infernos.