ORGASMO DE FREIRA
É a sua vez senhor! - Disse-lhe uma senhora setentona que estava atrás, apontando-lhe o guichê.
- Ah, obrigado! - respondeu-lhe Jorge, que estava totalmente absorto.
No guichê vizinho uma outra passageira chamara-lhe a atenção; era uma morena clara de cabelos pretos, vestindo uma calça colada ao corpo, que mostrava toda sinuosidade de suas curvas bem delineadas e uma blusa com um decote a mostrar parte dos seios. Já a havia visto sentada em uma cadeira do aeroporto lendo uma revista e chamara-lhe a atenção.
Pegou a passagem e se dirigiu à sala de embarque; no caminho, conferiu a passagem de São Paulo para Natal com escala em Brasília; os passageiros já estavam embarcando; adentrou no avião e ao chegar na sua poltrona, surpreendeu-se ao ver ao lado sentada, a morena que tanto chamara-lhe a atenção. Acomodou-se na poltrona do meio, enquanto a referida passageira encontrava-se já sentada na poltrona ao lado da janela. Em seguida, ocupou a poltrona ao lado do corredor um senhor bastante gordo, imprensando-o e forçando-o a chegar mais para o lado, aproximando-o mais da passageira vizinha, ao ponto de literalmente ficarem colados, ombro a ombro.
- Desculpe, esses aviões estão cada dia mais apertados.
- Sem problema - disse a passageira ajeitando-se para o outro lado e pegando uma revista que estava disposta à sua frente.
Após a acomodação dos passageiros e as devidas recomendações da aeromoça, o avião levantou voo. Fazia um tempo nublado, devido a uma frente fria que vinha do sul.
- Senhoras e senhores passageiros, aqui quem fala é o comandante Eduardo Cravo; um bom dia para todos! O tempo está nublado, como vocês podem perceber, sujeito a pancadas de chuvas e trovoadas; portanto gostaria de avisar que em breve instantes atravessaremos uma área de instabilidade e com algumas turbulências; portanto solicitamos permanecerem em seus assentos e devidamente afivelados em seus cintos de segurança; Em Brasília faz tempo bom e nossa previsão de chegada àquela capital é às 11h30 da hora local; tenham uma boa viagem!
Após o anuncio do comandante, a passageira ao seu lado fez o sinal da cruz, cruzou os braços e com os olhos cerrados, balbuciou: - Ah meu Deus, protegei-nos!
- Calma senhora, turbulências são normais nesses voos, não precisa se preocupar - intercedeu Jorge tentando acalmar a passageira.
- Desculpe, mas é que morro de medo!
- Fique tranquila que tudo vai estar bem!
Na primeira turbulência ela se agarrou ao braço dele encostando o rosto em seu ombro com os olhos cerrados e assim permaneceu durante as três turbulências por que passaram.
Quando tudo voltou ao normal, recompôs-se e pediu desculpas à Jorge, um tanto quanto constrangida pela situação que criara.
- Tudo bem, não há de que se desculpar. Viu como tudo acabou bem?
- Graças a Deus!
- Você também vai para Natal? - Perguntou Jorge, um tanto quanto encorajado pela situação de intimidade criada pelo gesto da passageira.
- Não, vou para Brasília!
- Você mora lá?
- Não, vou a passeio!
- Tem parentes lá?
- Bem...não! – sua boca deu um leve sorriso e seus olhos voltaram-se para a janela como a buscar nas nuvens outra resposta.
- Uhmmm...namorado? (risos)
- Bem... é...mais ou menos!
- Cara de sorte...(risos)
- Uhmmm...pode ser!
Nesse instante, o avião deu um solavanco para baixo como estivesse em queda livre. Ela deu um gritinho e segurou novamente em seu braço.
- Meu Deus, outra dessa e eu morro, meu coração quase sai pela boca!
- Sabe como se chama isso?
- Não!
- Orgasmo de freira! (risos) – Meu nome é Jorge, e o seu?
- Uhmmm...ééé...Anita!
Nesse momento o avião deu uma pequena sacolejada, mas dessa vez quem tombou para o seu lado, foi o senhor gordo que cochilara durante todo o voo.
- Oh, desculpe amigo!
- Não há de que senhor!
O senhor gordo então fez uma careta inchando as bochechas avermelhadas e começou tossir convulsivamente.
- O que houve, o senhor está bem? – intercedeu Jorge junto ao passageiro.
Mas o homem parecia ter se engasgado com alguma coisa. Os passageiros das poltronas vizinhas voltaram-se para o que estava acontecendo e Jorge acionou o botão do teto chamando a aeromoça.
Veio a aeromoça e fez uns exercícios de massagem no peito do passageiro que paulatinamente foi dando sinais de melhora; até que finalmente, recompor-se da crise de tosse de que fora acometido. Os passageiros que se aglomeraram em torno da poltrona voltaram aos seus lugares e o piloto anunciou que faria os procedimentos de descida e pediu para todos afivelarem-se em suas poltronas.
Quando o avião pousou, começaram os procedimentos de desembarque. Jorge também teria que desembarcar para pegar um novo avião para o seu destino. Aguardou o senhor gordo a muito custo levantar-se e logo em seguida levantou-se e ajudou Anita a pegar a sua bagagem no porta-malas e em seguida foi procurar a sua; ao colocar sua bagagem sobre o assento, percebeu que Anita havia esquecido uma pequena valise sobre o banco em que sentara; procurou-a, mas ela já estava saindo na porta de desembarque; um passageiro à sua frente demorou-se a pegar sua bagagem causando um certo tumulto, tornando mais lenta a fila de saída. Quando finalmente conseguiu sair do avião, olhou até onde a vista alcançava e não localizou Anita.
- Passageiros com destino à Natal, por este corredor! – avisou um funcionário do aeroporto.
“E agora, como faço para encontra-la e lhe entregar a valise.”- pensou.
Procurou seu voo no painel e o mesmo mostrava a partida com um atraso de uma hora. “Nesse caso, acho que dará tempo de procurá-la no saguão do aeroporto.” – refletiu.
Saiu da sala de embarque e correu até ao ponto de táxi, para ver se a encontrava; mais não a viu, foi quando notou um carro passando com certa velocidade e a reconheceu no banco do carona; chamou seu nome mas ela não percebeu. Chamou-lhe a atenção, as feições do motorista, que lhe parecia familiar; de imediato não atinou quem poderia ser, mas logo em seguida reconheceu aquele rosto; era de um conhecido deputado federal, cuja imagem havia sido veiculada nos meios de comunicação, envolvido em crime de corrupção em uma operação da polícia federal.
Sentou-se em um banco, concluindo que neste caso teria que entregar a valise no setor de achados e perdidos. Na sua frente, um televisor dava as últimas notícias do dia; Naquele instante estava havendo uma operação da policia federal no congresso denominada “Narizinho”, para desbaratar uma quadrilha de traficantes de cocaína que atuava diretamente dentro do congresso nacional e tinha como principal suspeito o parlamentar que acabara de ver transportando Anita em seu veículo.
Olhou para a valise de Anita e sentiu um calafrio. Com o coração palpitando não conteve a curiosidade de abri-la. No seu interior encontrou um pequeno espelho, um batom e um pacote de aproximadamente um quilograma e que estava totalmente lacrado. “E agora?” – pensou, “Abandonaria aquilo ali mesmo ou levaria para o setor de achados e perdidos?”; resolveu procurar um depósito de lixo para desfazer-se daquele imbróglio e assim que se levantou percebeu um homem olhando-o fixamente; o coração disparou, sem disfarçar o nervosismo, levantou-se acelerou os passos; olhou para trás e viu o homem lhe seguindo. Tentou disfarçar, parando em uma banca de jornal.
- Senhor, por favor queira me acompanhar! – falou o homem mostrando o distintivo da polícia federal.
Jorge empalideceu.
- O que houve? – conseguiu balbuciar à muito custo.
- Não se preocupe senhor, é apenas uma inspeção de rotina! – falou o policial, apontando-lhe o caminho.
No local de inspeção Jorge foi orientado a colocar as bagagens sobre uma mesa.
- Qual o seu destino, senhor?
- Natal, venho de São Paulo com escala em Brasília e estou aguardando o meu avião para embarque!
- E por que não estava na sala de embarque?
- É que estava procurando a dona dessa valise, pois a mesma esqueceu no avião!
- O senhor quer dizer que essa valise não é sua?
- Não senhor, estava justamente procurando a dona para entregar!
- Isso é o que todos dizem, senhor, quando há algo errado! – respondeu uma jovem da polícia que também estava presente na inspeção.
- Mas eu nem sei o que tem dentro dela?
- Isso nós saberemos em instantes! – respondeu o policial que o acompanhara.
Nesse instante ouviu-se os alto falantes do aeroporto anunciarem a última chamada para o voo com destino à Natal.
- É o meu avião! – disse Jorge, já completamente descontrolado.
- E o senhor tem um avião? – disse o policial, de chiste.
- Quero dizer, é o meu voo!
- Infelizmente o senhor só poderá embarcar após completarmos a inspeção em suas bagagens!
O policial abriu a valise de Anita e pegou o pacote desconhecido.
- O que tem aqui dentro desse pacote?
- Eu não sei senhor, como já disse essa valise não me pertence!
- Neste caso vamos ter que abri-lo, senhor!
Com um estilete o policial começou a remover a cobertura do pacote e logo algo de cor branca começou a mostrar-se. O coração de Jorge estava quase saindo pela boca. Com cuidado, o policial abriu mais o buraco que fizera para ter melhor acesso ao produto no interior do pacote; e com os dedos polegar e indicador puxou para fora um lencinho branco de seda; enfiou novamente os dedos e trouxe outro lenço; abriu o restante do pacote e verificou, tratar-se de um pacote de lenços de seda perfumados. Fez um careta de decepção e disse:
- Bem, vamos verificar o restante das bagagens!
Após o restante da inspeção, certificou-se de estar tudo dentro da legalidade.
- Está tudo em ordem senhor, agora o senhor já pode embarcar no seu voo!
Jorge saiu em disparada para não perder o voo. Ao adentrar o avião, dirigiu-se para a sua poltrona e notou que no assento ao lado, próximo à janela, estava sentada uma freira. Sorriu aliviado e pensou: “Só espero que daqui para Natal não tenha turbulências”.