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"Não temos medo de perder alguém... O que temos, é um desejo egocêntrico de ter sempre algo a nossa disposição, sejam posses físicas... Um abraço, um aperto de mãos, coisas do tipo... Ou posses sentimentais, extremamente individuais..." -Nada disso fazia sentido... Fui até a janela e fiquei a observar os fogos de artificio no céu, como se cada um fosse uma estrela que estivesse explodindo, bem pertinho de mim... Enquanto imaginava o que ela responderia, quais as soluções que traria para minhas psicoses... Caso estivesse aqui...
— Quem você acha que construiu o céu?
— Alguém que tinha muito tempo sobrando... Talvez toda eternidade... E o céu ainda está se expandindo... E todas essas estrelas explodindo, são pequenos nós no tecido do universo... Cada estrela ao partir deixa cicatriz jamais imperceptível...
— Quando a profecia se cumprir, já estaremos em busca de outras galáxias... Seremos nota singulares de uma canção coletiva... Um pequeno arranjo de sons estranhos ecoando na amplidão do silêncio eterno... Ondas sonoras viajando sozinhas, até não serem mais ouvidas por ninguém há milênios de anos luz...
— Tudo que é eterno me parece tão distante... Eu ainda não aprendi a viver pra sempre... A eternidade é nos oferecida como uma benção, mas, nada parece ter realmente sobrevivido ao infinito das coisas, tudo que se diz eterno, ainda está vivo... A percepção de que o tempo está passando me deixa ainda mais desesperado, a intuição de que ele pode parar a qualquer momento me deixa apavorado...
— Quando o conflito humano se estende, a loucura generaliza e o sangue é derramado, os deuses se calam... Param e nos observam... Se deliciam com a nossa rebeldia supérflua, suja e humana demais para ser sagrada...
"Um manto branco e leve de neblina desce vagarosamente do céu... Até tocar as janelas, os rostos e o chão..."
— Quando todas as estrelas explodirem e não restar nada além de frio e escuridão, estaremos velhos demais para nos importar com o fim de tudo...
— Olhe como o Sol surge atrás das montanhas, como os raios solares cortam o céu deixando um rio de sangue em luz se espalhar por tudo que estamos limitados a ver... Isso não dá sentido a vida, muito pelo contrário, nos confunde ainda mais. É um dia a mais para uma noite a menos...
— O pássaro cantando no muro está feliz... Todos os animais acordam felizes, não importa o quão escuro esteja o céu. Seria isso uma maldição ou uma benção?
— A vida que acontece fora de nós não tem qualquer compromisso com as angustias humanas. Viver, além de todas as coisas, é uma espera agoniante pela morte, obviamente, ninguém quer chegar ao fim, porém... Não exitamos em recusá-la. O que nos mantêm vivos é a beleza que ainda não vimos, o amor que ainda não tivemos, as alegrias que ainda não vivemos... São as tristezas que ainda não choramos... A vida que ainda não tivemos. Quando você entender que se entregar a alguém não faz a menor diferença, estará pronto para se apaixonar novamente, seja pela mesma pessoa... Ou outra, outras... O ciclo é constante, e é isso que nos mantêm em movimento em busca de aventuras maiores.
"O frio aos poucos invadia o quarto, delicadamente atravessava a janela e as paredes... Num silêncio mutuo, nos encaramos... E no fundo de seus olhos, eu enxergava a mim mesmo, sem distinções, sem variações de humor, sem expressões faciais, apenas eu... A pupila de seus olhos aos poucos perde o brilho, seus olhos se fecham, e ela desaparece... Volta, vinda de onde não sei encontrar... Retorna a mim, se esconde entre os vazios que criei, onde não sei me encontrar... Olho para o céu, que aos poucos se abre, as nuvens evaporam numa dança simétrica... As estrelas se foram... Um ultimo foguete explode... Assusto-me, retorno a percepção de quem sou... Deito-me, encarando mentalmente um olhar estrangeiro... Deito-me, construindo mentalmente parâmetros para minhas ansiedades... Deito-me... Esperando que tudo se repita quando eu acordar... Deito-me... Esperando que tudo faça sentido quando eu acordar..."