O Vampiro da Meia-Noite

Eram seis em ponto, quando meu pai parou com o carro em frente ao portão da casa da minha amiga. Ao se despedir pediu para que eu tivesse juízo, cheia de irritação por dentro, menti dizendo que era só uma festinha do pijama, e que os pais dela chegariam do supermercado logo. Saí do carro e sorri ironicamente para disfarçar o nervosismo.

Toquei a campainha e logo em seguida Kelly abriu o portão de sua imensa casa. Ela vestia um sobretudo bege e estava descalça. Entrei rapidamente, enquanto ela acenava para meu pai, que já se retirava do local. Assim que ele dobrava a esquina da rua, outro carro parou em frente à casa, era Carol, que desceu do carro com sua bolsa vindo para nossa direção, enquanto cumprimentávamos seus pais a distância, que logo em seguida foram embora.

Assim que Carol entrou ainda olhou para trás, para ver se estava tudo limpo, logo depois abriu a bolsa e tirou as três identidades que nos prometera, seu sorriso era malicioso, nós nem queríamos saber como ela conseguiu aquilo, só retribuímos o sorriso de volta.

- Preparem-se para a festa meninas! – Disse balançando os documentos falsos.

Subimos para o quarto e nos arrumamos dentro de uma hora, as três de salto alto, vestidos curtos e bem maquiados, pegamos um táxi na rua de cima e em quinze minutos chegamos.

A balada permitia a entrada apenas para maiores de dezoito, mas passamos por isto com muita facilidade, o segurança na portinha nem desconfiou, já que aparentávamos ter mais de dezesseis, além do fato dele estar nos comendo com os olhos, o que ajudou muito para nossa passagem.

A festa estava abarrotada de gente, a música estava bem alta, tocava Here is The House do Depeche Mode. O jogo de luzes coloridas do salão seguia o compasso rítmico da música, havia muitos na pista principal, dançando sem preocupação alguma, a mistura do suor com o vapor que subia de seus corpos alvoroçados, era algo sublime aos meus olhos, subimos aos camarotes que não eram individuais, apenas separados em mesas, todos com carreiras de cocaína e bebidas a rodo. Os cantos das paredes estavam cheios de casais desafortunados se beijando freneticamente ao som pós punk do teclado de Alan Wilder.

Já era quase meia noite, e entramos de vez na animação compartilhada por todos do local, o som era emissivo (agora tocava Bizarre Love Triangle do New Order) e eu sentia-me levada pelas notas que me adentravam, uma espécie de hipnose em massa, pois ao olhar para os outros percebia que estavam compartilhando do meu sentimento de estar ali.

Enquanto Carol se afastava da gente por ter arrumado um guri pra dançar, Kelly me segurou pelo ombro e apontou com seus olhos para um homem que não dançava, apenas observava o local, como se avaliando quem estava ali.

“Ele não parou de lhe olhar”, disse já alta pelo álcool no sangue.

O homem era muito maior que eu, e tinha os cabelos negros os mesmos tocavam seus ombros e estavam com o aspecto molhado, não de gel, mas sim de suor, estava com uma camisa social deixando quatro botões abertos, dava pra ver um pouco do seu peitoral branco, a cor de sua pele não era só alva, mas pálida, estava de calça jeans e all star, aparentava ter uns vinte e sete anos.

Eu o encarei tímida e ele sorriu para mim, então eu sorri de volta, e comecei a dançar olhando para aqueles lindos olhos azuis. Imediatamente o vi se aproximar de nós duas, e Kelly se afastou com sua chegada. Sorrindo pra mim disse com sua voz encantadora “Oi”. – Porém não foi um “oi” qualquer, aquela palavra ecoou em minha mente.

– Oi – respondi de volta nas nuvens. Ele bebeu um pouco mais e continuou:

– Prefere uma coisa mais brega do tipo, “Você e a garota mais bonita da festa”, ou prefere algo do tipo… – Deu uma pausa em sua fala, e se aproximou do meu rosto sussurrando diretamente no meu ouvido:

– Ou prefere algo como, “Você é a garota mais gostosa da festa, e eu estou louco pra te agarrar”.

Eu o empurrei devagar, e fintei seu rosto novamente por um segundo pensei ter visto presas maiores em sua boca, não tive outra reação a não ser balançar minha cabeça positivamente.

Ele agarrou meu braço e me puxou em direção a uma porta de saída, ao passarmos me soltou e andou mais rápido, sumindo ao fundo, apertei o passo e senti suas mãos firmes me envolver, antes que pudesse falar alguma coisa o beijei. Minutos depois ele parou o beijo, e me convidou para ir ao seu carro, sem pensar duas vezes eu respondi que sim, sentia uma atração inexplicável pela sua figura.

Me guiou até a rua acima, uma sem saída, ao longe vi seu carro uma Mercedes preta, hesitei um pouco em entrar, e logo seus lábios veio novamente ao encontro dos meus, tão intensos quanto os primeiros beijos desferidos, ali mesmo contra a lateral do veículo, me deixando afeiçoada por tudo aquilo.

Ele tentou balbuciar algo como, “Não quer ao menos saber meu nome?”. Prontamente ignorado, apenas voltei a tocar sua boca calando-a. Seu beijo ficava cada vez melhor e também mais excitante, eu sentia suas mãos em meu corpo, apertava minhas nádegas e desenhava minhas costas, poucos minutos depois, me rendi e pedi para que entrássemos no carro.

Ao entrarmos ouvi o barulho da trava da porta, porém não me importei apenas o queria de qualquer maneira, entre os beijos, suas mãos foram ficando mais atrevidas, e rateiam para dentro da minha saia procurando me dá mais prazer, soltei gemidos tímidos ao ser tocada por seus dedos gélidos. Uma de minhas mãos estava em sua nuca, com os dedos enterrados em seus longos cabelos negros, a outra presa, pois ele a segurava contra o estofado do carro. Seus lábios desceram para o meu pescoço e começaram com uma chupada leve, e depois senti seus dentes fincarem em meu pescoço, eu me contorcia de excitação, não havia dor alguma.

O sangue estava saindo do meu corpo para sua boca, o barulho da sucção era audível, e ele agora segurava os meus dois braços, me prendendo com uma força maior, uma excitação estranha me tomava mesmo que o horror crescesse dentro de mim, eu queria aquilo. Quando eu já não tinha mais forças ele parou de me morder, e olhou para os meus olhos, sua boca estava ruborizada por meu sangue que escorria até seu queixo e respingava em meu corpo, eu consegui soltar algumas palavras.

– O quê cê fez comigo...

O som delas pareciam escorrer de mim.

– Como você é inocente, garota... – ele disse, e logo em seguida, deu uma risada mostrando suas presas ensanguentadas.

– Não devia confiar em qualquer um. – Continuou dizendo, enquanto limpava com o dorso da mão o sangue espalhado ao redor de sua boca.

Quando minha visão já começava a embaçar, ele se aproximou bem perto do meu ouvido e falou lentamente,

– Você pode acabar se deparando com um vampiro por aí… – Em seguida ele deu uma gargalhada, que foi sumindo aos poucos enquanto tudo escurecia ao meu redor.

Não sei quantas horas ou dias se passaram após aquilo, mas acordei vestida apenas com minhas roupas íntimas em um quarto grande, todo estofado e com apenas uma porta grossa, no centro do quarto havia uma cama e uma escrivaninha onde encontrei papel e caneta.

Os furos em meu pescoço começaram a doer, provando o que havia ocorrido não era um sonho, foi real, minhas mãos vão de encontro ao ferimento, mas não escorre nada, nenhuma gota de sangue.

Sinto uma enorme sede por alguma coisa, uma fome devastadora, como se algo dentro do meu corpo estivesse em frenesi querendo sair e matar. Ouço passos vindos de fora e vejo uma sombra por baixo da porta, que fica parada por um minuto inteiro, logo em seguida o chão branco fica vermelho e o licor escorre até meus pés descalços.

O cheiro quente sobe e me deixa inebriada, mal percebo meu movimento, e quando me dou conta estou no chão, sugando o sangue espalhado por ele, todas minhas ações são animalescas e faço isto até me sentir saciada.

Ao acabar, deito com as costas no solo sujo e mixado pelas partes brancas e vermelhas, meu corpo também está totalmente abundante de sangue, meus braços e pernas lambuzados, meu olhar se fixa na luz forte que vem do teto, os dedos tocam as presas, e eu sei o que aquilo significa.

Fim?

Matheus Lacerda e Ideia de Samara Felicia
Enviado por Matheus Lacerda em 23/01/2018
Reeditado em 25/01/2019
Código do texto: T6234392
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