Feliz aniversário!
O Sr. Ananias era um desses vendedores de planos de saúde que andam com a pastinha debaixo do braço visitando escritórios no centro da cidade.
Aos 62 anos, prestes a se aposentar, resolveu abusar um pouco do seu plano de saúde, o qual usara apenas duas vezes durante os doze anos em que permanecera naquela empresa. Uma vez por causa de uma unha encravada e outra prá tirar uma verruga enorme que nascera-lhe no pênis. Decidiu que faria um chek-up geral. Queria parar
de trabalhar com a saúde "nos trinques".
Feitos os exames, só lhe restava esperar pelo resultado, que saíria justamente no dia do seu aniversário. Imaginou que esse seria o seu melhor presente: A palavra do médico que sua saúde era de ferro e que ele ainda teria muitos outros anos pela frente.
Mas, nem tudo saiu como ele esperava. Seu eletrocardiograma acusou uma pequena arritmia. - Nada sério. Disse-lhe o médico, prescrevendo o tratamento.
- Basta seguir minhas recomendações e vamos ter muitos outros aniversários seus para comemorar, Sr. Ananias.
- Que belo presente de aniversário esse. Resmungou.
Sr. Ananias saiu do consultório desolado. Não poderia mais ter fortes emoções, logo teria de torcer para outro time. Ser corintiano dalí prá frente, seria atividade de risco. Pilotar sua Suzuki 750 pelas ruas da cidade, coisa que ele adorava fazer aos finais de semana, nem pensar. Transar com aquelas cocotinhas do Tatuapé, que o chamavam de "Tiosão da Sukita", seria agora coisa do passado. - Que merda!!! Não vou poder fazer mais nada de interessante. Praguejou ele chutando uma latinha de refrigerante no caminho para o estacionamento.
Pegou o carro e dirigiu-se para casa. Dirigiu até mais devagar naquele dia. Alguém poderia atravessar repentinamente na sua frente e seu coração poderia ter um pirepaque. Comprou balinhas no farol prá não se stressar com a insistência do vendedor. Ignorou uma fechada que um motoqueiro lhe dera. Valia tudo dali prá frente pra preservar seu coração e sua vida. Iria até tomar suco de maracujá, o que ele detestava, prá ser um homem mais calmo.
Chegando em frente à sua casa, notou que estava tudo às escuras. Estacionou o carro e enquanto subia as escadas, pensava que a dona Celina, que cuidava da sua casa e das suas despesas, havia esquecido de pagar a conta de luz. Um princípio de irritação foi subindo-lhe à cabeça, que já começava a doer. Então, ele lembrou-se de seu coração, agora frágil, e parou. Contou até dez e pensou: " Deve ter sido só um fusível."
Com uma certa dificuldade, devido à escuridão, ele enfiou a chave na fechadura e abriu a porta. Daquele breu total, sob o qual nada se via, surgiram, repentinamente ao acender das luzes, umas vinte pessoas gritando alegremente: "FELIZ ANIVERSÁRIO!!!!" " PARABÉNS PRÁ VOCE!!!" " É PIQUE!. É PIQUE!. É HORA!. É HORA!.
É HORA!." A alegria era tanta que nem perceberam que o infeliz estava estático, em pé e com os olhos esbugalhados. Só se deram conta do problema quando ele desabou das pernas. Nessa hora fez-se um silêncio absoluto, seguido de um frenético corre-corre. Tudo em vão. O pobre do Sr. Ananias já havia passado dessa pra melhor, vítima de um infarto fulminante. Pobres também dos amigos que foram da "festa" direto para a delegacia prestar esclarecimentos.