Do que são feitos os sonhos?
Capítulo 1
Teve uma noite agitada, não dormiu bem quando acordou na manhã seguinte viu se transformado num gordo imenso, tentou mexer os braços, mas o que viu foram dois bracinhos contorcerem-se, perdidos naquela imensa montanha de carne, ele viu que isso só podia ser um sonho e tentou voltar a dormir, quando acordou viu que tinha voltado a ser o que era, mas outra vez pensou que era um sonho, pois ao seu lado estava a Regina uma baleia medonha que lhe havia proposto casamento na noite anterior.
Novamente tentou dormir, mas não conseguiu, ela resfolegava pesadamente ao seu lado, virou a cabeça e a ficou olhado perplexo, aquilo era inimaginável, surreal, aquilo só podia ser brincadeira de um dos seus amigos. Em silêncio saiu da cama, lentamente sem fazer barulho foi até a janela, abriu a persiana com cuidado, mas levou um sobressalto quando escutou uma voz resmungando que fechasse a janela, aquela fala seca, metálica ele não esquecia, odiava-lhe mais isso do que sua gordura, quando criou forças para lhe responder, ela parecia ter voltado a dormir. Deitou-se novamente ao seu lado e ficou olhando para o teto a procura de uma explicação, que não vinha, lembrou-se de olhar as horas e viu consternado ao lado do relógio um porta-retrato, e nele os dois casados, olhos brilhantes, a felicidade em suma. Tirou a foto de dentro e viu a data de dois anos à trás, furioso rasgou-a em dois, levantou-se e foi em direção à porta, girou a maçaneta, mas viu que estava fechada. Temeu acordá-la se começasse a procurar a chave, acreditava que aquele pesadelo se tornaria pior se ela despertasse. Com calma deitou-se novamente na cama, fitando as pás do ventilador do teto desligadas, os olhos absortos como uma coisa de doido, quando se cansou pousou os olhos no relógio de parede, o lento circular dos ponteiros, a vida passa devagar para os relógios, pensou. Apreender uma situação que lhe escapa, sem nunca conseguir, não havia solução, já, já ela acordaria, teria que se entregar àquela vida, inexoravelmente para sempre, por todos os séculos, junto àquele monte de banha. Desde que ele chegou do Sul que a Regina, nunca lhe deu sossego, uma obsessão sem cura, mas de algum modo, de alguma maneira ela havia se casado com ele, tinha conseguido seu intento. Ele só não sabia como.
Capítulo 2
A noite foi agitada, com pesadelos aterradores, que a fez despertar várias vezes durante a noite, quando acordou, porém na manhã seguinte achou que estava tendo outro sonho, porque ao abrir os olhos, estava magra como uma sílfide, fechou os olhos e voltou a dormir, quando despertou depois, viu que tinha se transformado outra vez no que era, com todos os quilinhos que lhe deram fama, mas novamente pensou que estava sonhando, dessa vez um lindo sonho, pois ao seu lado estava o Gregório, a quem tinha verdadeira paixão, na noite anterior havia ido dormir aos prantos, soluçava no colo da mãe, dizendo que talvez tivesse ido longe demais no seu alvo, nunca arrumaria alguém desse jeito, pensava, mas agora essa situação, parecia que havia dado um salto no futuro, um quarto em que ela nunca havia estado e ele ali objeto dos seus sonhos, concretizado, o torso nu, aquela boca que ela tanto deseja, sentia sua respiração leve, ficou a observa-lo em silêncio, temendo que ele acordasse a qualquer momento. Sentiu que ele despertava, fingiu que ressonava, imaginou que a qualquer momento tudo acabaria.
EPÍLOGO
Gregório foi à cozinha, preparou um belo café da manhã, trouxe tudo arrumado numa bandeja de prata, perguntou-lhe como havia passado a noite, continuaram conversando por toda manhã, como se realmente casados por toda a vida estivessem, evitaram evidentemente cada qual falar da vida que nunca tiveram em comum. E assim foram felizes por muito tempo, até que um dia Gregório acordou com alguém (talvez sua mãe), jogando o jornal em cima da sua cama e o chamando para o café, mas isso era muito estranho, pensou, que cargas d’água sua mãe estava fazendo na sua casa, mas o que era mais curioso era estar de volta ao seu antigo quarto de solteiro, à sua cama, ele não estava entendendo mais nada, mas quando viu a foto no jornal, tudo ficou claro, nítido, tudo não passou de um sonho e a realidade era aquela, a única oportunidade de ser feliz, extinguira-se talvez para sempre.
Quando Regina acordou, depois de uma noite inquietante, vira que tudo não passara de um sonho, e que a realidade era aquela, viver para sempre sem ter a pessoa que amava, essa era a única certeza que tinha na vida, talvez a morte apontar-lhe-ia outra saída, foi o que pensou quando se jogou do 13° andar.