Selma aceitava qualquer outro tipo de traição, não aquele. Onde já se viu? Uma mulher daquelas não podia ser rejeitada. Tinha a bunda mais bonita do bairro. Tinha o rosto mais safado. E a buceta? Era um fogareiro aceso.
Queimava!

Darcy não podia ter feito aquilo!

Selma lembrou a primeira vez: fogo sobre fogo, incêndio, chamas e labaredas. Darcy gozou rios. E ela, um orgasmo múltiplo.

Mas Darcy sempre foi estranho. Apesar de Selma, nunca largava o Ribamar.

E todo mundo dizia que o Ribamar era baitola. Todo mundo. Principalmente dona Emerenciana, a língua do diabo que fala. Ela falava e falava e, no entanto, Selma sabe agora, não mentia.

Como é que pode? E na cama onde ela entregara seu furor e sua flor...

Ribamar de quatro. Darcy atrás, selvagem e gritando: ai que gostoso! É a melhor coisa do mundo!

E o Ribamar, menininha: melhor que o da Selma?

Darcy: muito mais, muito mais!

E a Selma escutou aquilo, escondida que estava atrás da porta.
Selma segurou o ódio.

Selma sufocou o choro.

Selma esperou para ver até onde ia a patifaria.

Selma meteu a mão na bolsa. O canivete de Selma, o que uma vez retalhou a cara de Osvaldo Calango. Mulher braba, a Selma. Mas Darcy a amansara. Darcy e sua conversa mole.

Acabou a mansuetude. Selma olhou de novo.

E sua vergonha aumentou.

De quatro, Darcy recebia o leite de Ribamar e gritava que era uma puta e merecia apanhar. E Ribamar batia naquela bunda, que Selma achava tão... Feminina?

Abriu a porta e, rápida e selvagem, abriu uma fenda no rosto de Ribamar. Nu como estava Ribamar saltou pela janela e se espatifou sobre um carro, dois andares abaixo.

Darcy gritou algo que Selma não ouviu.

Um golpe no peito. Outro golpe no peito. Sangue. Sangue.

Selma, a moça má do bairro.

Cortou o pênis de Darcy. Virou o corpo do homem. Cravou a faca lá.

Os policiais nunca haviam visto algo assim.

Tremendo grand-guignol!