ONÇA PINTADA...
Acordei. Olhei o despertador e vi que eram 02h20min. quer dizer, 02h10min., antes do meu horário. Fiquei acordada durante um tempo e de repente era uma noite maravilhosa de lua cheia. Esperávamos que ela, Luna, aparecesse por trás da serra... havia uma serra.
O vilarejo não era pavimentado e aparentava haver chovido durante o dia, essa a razão de ter-se formando pequenas poças, nas valetas, do solo arenoso.
Ela apareceu e se colocou entre nós e a serra. Era uma jovem mulher morena, belíssima, de cabelos negros, compridos, bastos e ondulados. Seu vestido branco, rendado, cheio de fitilhos, entremeios e babados, era lindo.
Começou a cantar, e a medida que sua voz enchia o espaço, ela segurou os lados do vestido mostrando as coxas roliças e firmes e se pôs a dançar. Já vi essa mesma jovem noutra ocasião, mas então ela cantava em uma igreja. Seu rosto é perfeito. Seus lábios carnudos circundam dentes alvissimos e uniformes enfeitando seu sorriso. Seus olhos negros e amendoados parecem poços magnéticos de uma profundidade abissal.
Súbito, um brilho prateado destacou sua silhueta contra a serra. Luna Plena estava surgindo. Redonda feito biju de farinha de mandioca, tapioca e coco fresquinho, raspado na hora. Um grito retumbou no Vale.
_____Ela é a Onça Pintada pessoal! Corram!
Quando me virei, vi a jovem se transformando...sua pele morena cobriu-se de uma pelagem curta e marrom, pontilhada por manchas negras de tamanhos variados. A cena que mais me chamou a atenção foi a transformação de suas mãos e pés... primeiro seus dedos se arquearam, após encolheram-se como se fossem retráteis. Vi duas fileiras de dentes alvos e fortes “sorrindo” naquele rosto que lentamente se modificava, dando lugar à Onça que me olhava como a dizer:
_____Agora eu te pego!
Disparei a correr com uma outra mulher. Durante a fuga, lembrei de minha irmã. Ela estava dormindo em casa, pois não quisera assistir o surgir da Lua Cheia. A mulher que corria comigo entrou numa casa e falou.
_____Entra. Não te preocupes com tua irmã. Se ela está dormindo, certamente que fechou bem as portas antes de deitar-se. Temos que fechar as janelas e portas daqui, senão Ela entra e nos pega. Vem, eu fecho as janelas e tu fechas as portas, ta?
Tentei fechar a primeira porta, mas, pro meu desespero, a porta não chegava no portal. O ferrolho muito curto não me dava nenhuma esperança de conseguir ao menos tentar trancar... vi a Onça se aproximando e esperei o bote. Um som meu conhecido desviou minha atenção...
_____Bóbó...
Abri os olhos resfolegando... Hannah acabara de levantar-se, meio dormindo e me buscava com os bracinhos estendidos... querendo meu colo, aí a visão se desfez... Uffffffa!!!