conto escatológico
Já não é a primeira vez que escrevo por este motivo, tentar manter-me acordado. Forçar a mão a mover-se: - Acção!
As palavras precipitam-se e começam a cair... Ainda vou a tempo de me lembrar da história do dragão apaixonado pela Lua, sofrendo a presença do Sol, aguardando o regresso da sua amada para ficar com ela depois do crepúsculo.
Sem pressa, com a imaginação em falta, apenas um teatro de marionetas reduzido a um fio frágil segurando as palavras: o fio da narrativa parada, indecisa, caótica nos bastidores.
OS TRÊS DA VIDEIRADA
“Os três da videirada: Cocó, Ranheta, Facada”
- Peguem neste mote, construam uma história.
- Professora, quem é o Cocó? Pergunta o Miguel.
- És tu!, diz o António.
- Cala-te... Ranheta!, responde o Miguel.
- Eu fico o Facada, diz o Mário.
A professora Margarida, mostra-se satisfeita:
- Boa ideia! Imaginem que “os três da videirada” são vocês, escrevam uma aventura.
Os três amigos e colegas são alunos do ensino especial, têm aulas individuais com a professora Margarida. Há duas horas semanais em que se encontram os três ao mesmo tempo com a professora, geralmente fazem jogos, sessão de leitura, dramatizações.
Hoje a professora está a tentar, sem grande esperança, conseguir que os seus alunos façam redacções. Atirou a ideia de construírem uma história, está à espera dum diálogo onde encontre uma ou duas ideias para cada aluno e pô-los a representar.
Qual não é a sua admiração quando cada um pega numa folha, esferográfica e uma inesperada vontade de escrever. Parece que estão a representar, cada um vai para seu canto e começam.
Margarida dá conta de estar tranquila, apenas observadora. O Cocó, o Miguel, tem feições de mongolóide mas é muito alegre e o que tem melhores resultados na aprendizagem porque, como costuma dizer: “Gosto de aprender!”
O Ranheta é o António, desde ontem anda constipado e a fazer uso de lenços de papel que substituiu por papel higiénico antes desta hora, pois está com “o pingo no nariz” sempre a cair.
O Facada está mal dos intestinos, está-se cagando para a história.
(insólito ~ não sólido)
o Facadas