Renata na espiral do tempo

Havia sempre uma ternura especial nos olhos de Renata, mas era pela manhã, ao acordar, que seus olhos apresentavam algo indecifrável, eu chamava de alegria suspensa...

Não importava a hora em que eu acordasse, Renata estava sempre a me olhar, como quem espera descobrir algo, encontrar algo há muito perdido... Sempre acreditei que procurasse algo em mim, talvez a vividez da paixão do passado, já encoberta pelas camadas de folhas de calendários... Mas hoje percebo que não, Renata procurava descobrir-se... Redescobrir-se...

Percebi que tudo estava acabado quando, certa manhã, pareceu-me que aquela alegria suspensa, que tanto me instigara desde que a conheci, era apenas uma película que encobria sua verdadeira essência tétrica... A partir daquele dia passei a entender que sua força, sua alegria e tudo que a movia tão apaixonadamente, vinha desta escuridão, deste vazio...

...Eu já não podia contê-la...

Acredito que Renata nunca soube que procurava em vão nos outros algo perdido dentro de si. Confesso que perceber isto me fez sentir um pouco culpado por deixá-la, por não me esforçar mais para ajudá-la a entender, por não ajudá-la a encontrar esta essência só sua, a luz que faltava bem lá dentro de si...

Mas Renata nunca foi uma mulher de deixar-se ajudar, era demasiadamente forte, e com uma necessidade ainda maior de acreditar nisto, para permitir atitude tão incisiva em algo tão seu...

...Redescoberta...

Talvez o que Renata precise aprender, é que para redescobrir-se, para trazer de volta para dentro de si a luz que ainda brilha ao seu redor, é preciso encontrar-se nas camadas deixadas por todos que conhecemos e de tudo que vivemos, tudo aquilo que vai deixando seus próprios traços, muitas vezes encobrindo quem de fato somos, o que verdadeiramente almejamos, apagando lentamente aquele brilho original que já houve em cada um de nós.

Renata precisa aprender a olhar ternamente para si...

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um abraço!